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Trem da Morte: estação em Lins (SP) vira ateliê para pichadores

Cidade integrava a rota da Noroeste do Brasil, que ligava Bauru a Corumbá (MS), na fronteira com a Bolívia

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Ela é mais nova que outras estações iniciais do Trem da Morte, mas isso está longe de significar que está mais bem conservada.

Sem portas e janelas, com seu interior dominado por mato e com paredes indicando risco de desmoronamento, a estação ferroviária de Lins (a 430 km de São Paulo) serve atualmente como uma espécie de ateliê para pichadores.

Estação em Lins, que integrava a rota do Trem da Morte, não tem mais portas ou janelas
Estação em Lins, que integrava a rota do Trem da Morte, não tem mais portas ou janelas - Eduardo Anizelli/Folhapress

Suas paredes exibem pichações datadas de 2012 e 2015, por exemplo, e estão tão deterioradas que há inscrições sobrepostas nas instalações, o que dá uma dimensão do abandono vivido pelo local, pertencente à União.

Prédio que mostra que não havia um único padrão arquitetônico na Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, a estação de Lins, construída em 1962, tem estrutura mais moderna que locais como Pirajuí, construída em 1949, ou Bauru, cujo prédio atual foi erguido em 1939.

Prestes, portanto, a completar 60 anos de sua inauguração, a estação ferroviária de Lins ainda apresenta restos de concreto e animais mortos em seu entorno, devidamente observados por urubus.

A estação era a 22ª no trecho entre Bauru e Corumbá (MS), por onde a Noroeste do Brasil oferecia a linha ferroviária que ficou conhecida como Trem da Morte, por conta principalmente da desaceleração gradual de investimentos na estrada de ferro.

Ela permitia a ligação com Puerto Quijarro, na Bolívia, de onde partia o verdadeiro Trem da Morte, que vai até Santa Cruz de la Sierra, maior cidade boliviana (1,5 milhão de habitantes), e que ganhou esse nome devido ao número de acidentes e também por ser no passado rota para o transporte de doentes.

Percorremos, por rodovia, os 1.272 quilômetros entre Bauru e Corumbá e em 24 estações visitadas encontramos destruição e histórias de desolação de ex-maquinistas e antigos usuários das ferrovias.

Das 122 estações erguidas entre as cidades, ao menos 80 foram demolidas ou estão em processo avançado de deterioração, abandonadas ou fechadas, sem uso algum. A maior parte delas está sob responsabilidade do governo federal.

Moradores do entorno da estação em Lins, que vivem em imóveis ligados à ferrovia, disseram que não pagam aluguel há muitos anos e podem ter de deixar o local a qualquer momento.

Um deles, que se identificou apenas como João Carlos, disse que está no local há 23 anos e que, nos anos iniciais, buscava boleto para o pagamento do aluguel num escritório na própria estação.

A desativação do espaço, alega, fez com que deixasse de quitar o compromisso mensal e permitiu que o prédio passasse a ser alvo de vandalismo diário.

O trem ainda passa diariamente pelo local, operado pela concessionária Rumo, responsável somente pela linha férrea.

Segundo o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), para estações que estão sob sua gestão, procura-se firmar parcerias com prefeituras e associações de preservação para permitir salvaguardar os bens e "ocupar para evitar dilapidar o patrimônio".

"Ressaltamos que o Dnit tem procedimentos institucionalizados para a evolução das cessões de imóveis, e, desta forma, temos formalizados muitos termos de cessão de bens imóveis no Brasil inteiro. Entretanto, para que isso ocorra, deve haver manifestação de interesse por parte dos municípios e das entidades de preservação", diz o órgão federal.

O relato do estado da estação ferroviária de Lins faz parte de uma série sobre a extinta Noroeste do Brasil.

Se quiser conferir o estado geral das estações que pertenceram à ferrovia, contamos essa história aqui.

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