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Sons da Perifa - Jairo Malta
Jairo Malta

Conheça cinco mulheres que usam a música para lutar por direitos

Na lista aparecem cantoras, DJs e poetas que se desdobram para consolidar suas carreiras em meio ao machismo

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São Paulo

Fechando o mês das mulheres, conheça cinco artistas que estão ganhando destaque e virando referência no circuito musical e literário. Na lista aparecem cantoras, DJs e artistas que se desdobram para consolidar suas carreiras —mesmo convivendo em um cenário muitas vezes machista.

Veja a seguir cinco mulheres para acompanhar e seguir seus trabalhos nas redes:

DJ Sophia
"Informação nós mulheres temos demais, porque somos criadoras autônomas, e acredito que a gente já saiba como produzir os nossos próprios negócios. Mas acredito que o que falta mesmo, seja o incentivo financeiro para os projetos que queremos produzir," afirma DJ Sophia, de 21 anos, que tem aparecido nos principais eventos de rap de São Paulo.

Como DJ desde 2015, Sophia já tocou ao lado de Jazzy Jeff, no canal "Boiler Room" —principal canal do Youtube de DJs do mundo—, é beatmaker e hoje divide os palcos com a Karol Conká.

Como DJ desde 2015, Sophia já tocou ao lado de Jazzy Jeff, no canal “Boiler Room”
Sophia já tocou ao lado de Jazzy Jeff e no canal do YouTube da 'Boiler Room' - Caio Versolato/Divulgação

"Por outro lado, nós mulheres negras, e principalmente as de quebrada, temos acesso à alguns line-ups de eventos, e casas de show, mas a gente sabe o quanto ainda existe essa inviabilidade por parte dos produtores. Ainda falta um fluxo maior de contratações de mulheres nesses espaços, e falta pró-atividade dos produtores para que consigamos não estar apenas nos mesmos espaços, e nas mesmas datas", conta Sophia.


Gabriellê
"Para nós, mulheres artistas e periféricas, muitas vezes não encontramos outra solução ou caminho a não ser começarmos nós mesmas a nos produzir e gerir a nossa carreira, para que nos levem a sério. Uma questão que isso gera é a sobrecarga que nós temos para dar conta de todas as demandas que o mercado impõe, e acabamos sem tempo ou energia para conseguirmos criar, nos expressar artisticamente", comenta a cantora e compositora Gabriellê.

Vencedora do reality musical "Sobe Junto", produzido pela Budweiser, Gabriellê é cria do Jabaquara, região sul de São Paulo, suas canções passeiam por diferentes estilos da música preta brasileira tendo como base sempre o hip hop.

Gabriellê passeiam por diferentes estilos da música preta brasileira tendo como base sempre o hip hop.
Gabriellê passeiam por diferentes estilos da música preta brasileira tendo como base sempre o hip hop. - Divulgação

"Nossa presença ainda precisa sem naturalizada nos lugares de destaque, sem ser em caráter de exceção. Contratar o show dessas artistas que vão contra uma maré patriarcal e racista, se tratando de mulheres negras e indígenas, é mais do que necessário, é urgente. E isso não só no mês de maio ou novembro, mas durante o ano todo, pois é o que nos mantém", afirma a cantora.

Além dos palcos, Gabriellê atua como educadora em projetos sociais e culturais. Em 2019 lançou os singles Fúria e Sede, em 2020 o videoclipe de Oxitocina e atualmente trabalha na produção do seu primeiro álbum.


Thata Alves
"Eu acho que a assertividade em gerenciar quais são as sensibilidades das mulheres, é fazer um mapeamento de quais delas têm linguagem de escrita de editais. Os editais sempre trazem uma linguagem burocrática, que leva com que as mulheres de periferia não saibam lidar com esse comportamento textual", afirma a artista multimídia Thata Alves, que transita entre vídeo, performance e poesia. "Acredito que seja uma das barreiras mais incisivas, para que as mulheres consigam compreender as oportunidades de enquadrar seus projetos aos fomentos".

Thata Alves reuniu seus versos e os publicou o livro “Em Reticências”, em 2016
Thata Alves reuniu seus versos e os publicou o livro 'Em Reticências', em 2016 - Edlaine Pereira/ Divulgação

Em 2016, Thata Alves reuniu seus versos e os publicou de forma independente intitulado "Em Reticências". Já em 2017 lançou sua segunda obra literária, o livro "Troca" e em 2018, na seara infantil, com base nas vivências de seus filhos gêmeos, Bryan e Brenno, lançou o livro "Ibejis - Poesias do meu ventre" —a trilogia é lançada pelo selo Academia Periférica de Letras.

A poetisa lançou em 2021 o jogo de memórias "Baobá é Memória", com cartas inspiradas em Orixás. O brinquedo é ideal para os pais e crianças que querem cultivar uma cultura de ancestralidade negra na família. Além disso, também tem como propósito proporcionar o aprendizado sobre os Orixás de modo intuitivo e inconsciente pelas crianças.


Indy Naíse
"Falta maior investimento financeiro em projetos que sejam liderados por mulheres, sobretudo mulheres negras, para que assim não precisemos buscar renda em diversos trabalhos fora da nossa linguagem para sobrevivermos, além de precisarmos arranjar tempo para focarmos em nossas carreiras", conta a cantora Indy Naíse.

De Juazeiro, Bahia, e radicada em São Paulo, Naíse começou a carreira em 2014, e no primeiro ano nos palcos foi premiada em primeiro lugar no Festival de Música Ala Guarujá como melhor cantora em todas as categorias do evento.

"A maioria de nós não temos uma equipe, uma rede de apoio, que acredita e trabalha junto. E mesmo quando temos, muitas vezes não podemos remunerá-la de maneira justa, por conta da falta dessa amplitude de oportunidades dentro do mercado, que é majoritariamente masculino e branco e, que favorece sempre os mesmos nomes", afirma Naíse.

Em 2021, Naíse lançou o EP visual "Esse é Sobre Você", com produção executiva própria, produzido musicalmente pelo rapper Rincon Sapiência e direção de Yasmin Olí. O disco teve participações de Drik Barbosa e D'Ogum


Renata Prado
"Precisamos de boas oportunidades, além da escuta ativa de pessoas que estão em cargos de liderança!", é assim que pensa Renata Prado, que é idealizadora do projeto Academia do Funk e integra a Coalizão Negra Por Direitos.

Renata Prado é idealizadora do projeto Academia do Funk e integra a Coalizão Negra Por Direitos.
Renata Prado é idealizadora do projeto Academia do Funk e integra a Coalizão Negra Por Direitos - Divulgação

"É necessário que as pessoas compreendam o processo criativo dos profissionais da periferia, que utilizam suas respectivas vivências para potencializar a arte dentro de uma indústria que quer falar de arte periférica, mas que não compreende suas subjetividades, como a falta de acesso à educação de qualidade, estrutura para produção e profissionalização de sua arte", afirma Prado.

Além de dançarina e coreógrafa, Prado foi uma das criadoras da Frente Nacional de Mulheres no Funk. Organização que discute políticas públicas para mulheres por meio de atividades, permitindo diálogos temáticos, discussões sobre feminismo e cria uma agenda de combate ao machismo no funk.

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