Sons da Perifa

Sons da Perifa - Jairo Malta
Jairo Malta
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BR 135 exibe nova música clássica e dita tendência na região amazônica

Festival instrumental maranhense aposta na tradição local misturada aos beats para atrair público mais jovem

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O evento encerra com os sopros da Orquestra Aerofônica. Grupo formado por cinco instrumentos de sopro mistura rap, DJ e música paraense.

O evento encerra com os sopros da Orquestra Aerofônica. Grupo formado por cinco instrumentos de sopro mistura rap, DJ e música paraense. Fábio Matta/ Divulgação

São Paulo

No Complexo Deodoro, que fica na região do centro histórico de São Luís, no Maranhão, as pessoas se aglomeravam à espera do tão aguardado BR 135 Instrumental que aconteceu nos dias 21 e 22 de maio. O festival é um braço do evento maior, que faz 10 anos, programado para o final do segundo semestre.

A importância das produções do BR 135 vai além da inclusão do Maranhão no circuito nacional de festivais, por ser um dos únicos grandes festivais gratuitos —e o mais relevante no Maranhão— , o BR apresenta aos maranhenses artistas que em geral são mais vistos no sudeste do país.

Festival BR 135 Instrumental apresentou novas formas de ouvir música clássica e criou tendencia na região amazônica.
Festival BR 135 Instrumental apresentou novas formas de ouvir música clássica e criou tendência na região amazônica. - Fábio Matta/ Divulgação

Já o instrumental, mesmo sendo o irmão menos glamouroso e mais novo da família BR —com quatro edições—, as apresentações são oportunidades para descobrir os ritmos e estilos que estão ganhando força na região.

A começar pela Orquestra Maranhense de Reggae. A banda, criada em 2016 pelo músico Marcel Silva, deu largada à maratona de apresentação no estilo mais ludovicense possível —nome dado para quem nasce em São Luís. Vale lembrar que a cidade se autodenomina como a "capital do raggae".

O som da banda se mistura ao visual do ambiente. Quem anda pelas ruas próximo ao complexo logo percebe que o ritmo jamaicano é o estilo mais ouvido e vestido da região —é comum ver pessoas usando roupas com as cores da bandeira da Jamaica: verde, preta e amarela. Os que assistem a apresentação da Orquestra, naturalmente se identificam com músicas como "Could You Be Loved" e "Stir It Up", do Bob Marley.

Vale lembrar que o Complexo Deodoro —conjunto com quatro praças inaugurado em 1868— foi dividido em dois espaços para o evento: na parte mais alta, em frente a Biblioteca Pública Benedito Leite, ficava o palco Praça do Pantheon com shows menores e mais ligados às culturas ancestrais locais. Um dos destaques do sábado nesse palco foi o Tambor de Crioula do Laborarte com as tradicionais rodas de dança, cantos e percussão com homens agachados tocando tambores artesanais.

O festival atrai pessoas de todas as idades e acontece em meio a algodões doces, carrinhos de pipoca e balões infantis em formatos de personagens da Disney. Em um momento, uma fila de sem-teto se forma na praça à espera de comidas dadas por voluntários —a cena mostra que o evento em nada prejudicou o cotidiano local.

Em geral, eventos instrumentais estão mais ligados à percussão e à música clássica. Não é o caso do BR 135. A música eletrônica domina todo o festival e aparece como elemento principal na maioria das bandas. Alê Muniz e Luciana Simões, que cuidam da produção e são os criadores do evento, comentam que a inclusão dos beats no festival é uma forma de atrair o público mais jovem —receita que parece dar certo.

As Magnéticas, grupo de DJs, é um exemplo dessa onda. Composto apenas por mulheres, elas atraem os mais descolados do evento e transformam a pista em uma espécie de Mamba Negra —famosa festa eletrônica paulistana.

Vale lembrar que a cultura local e as referências às festividades do São João são sempre recebidas de forma enérgica pelo público. Desde o cazumbá —uma figura mítica do bumba meu boi sotaque de baixada, com um vestido colorido e uma imagem de santo na cabeça— ao mímico que surge no meio do público com trajes sociais e rosto pintado.

Entre uma apresentação e outra o público aproveita para comer. Uma das opções das barracas providenciadas pelo evento são os churrasquinhos. Desembolsando entre R$10 e R$15, a refeição é um prato feito com arroz, feijão, farofa e vinagrete.

O ponto alto do sábado acontece quando surge no palco a Guitarrada das Manas, dupla de guitarristas paraense que duelam entre si ao estilo Steve Vai e Ralph Macchio no filme "A Encruzilhada", de 1986. Aos gritos de "vai sapatão", a dupla dedilha as cordas de seus instrumentos com uma das mãos, e com a outra, tocam um teclado com som que lembra um órgão.

Perto do fim da noite quem aparece no palco é a banda Berra Boi. Composto por sanfona, guitarra, tambor e beats eletrônicos, o trio paraibano apresenta um forró psicodélico em um palco completamente esfumado —em alguns longos momentos era impossível enxergar a banda.

O primeiro dia foi marcado pela tempestade e fortes ventos, clima que não baixou a disposição do público que mesmo debaixo de muita água continuou no evento —até porque a chuva foi um refresco para o dia que chegou a ter 32°C.

As atrações de domingo misturam mais estilos eletronizados a ritmos do amazônicos. Um dos destaques do dia foi o Loopcínico, banda maranhense que inova misturando tambor de crioula com bateria, carimbó, beats e cantos ancestrais.

Ao mesmo tempo, em frente a biblioteca, o Maratuque Upaon Açu, mistura ritmos como cacuriá, afoxé, bumba-meu-boi com influências do maracatu do Pernambuco. A dança une o gingado das mulheres —que giram seus vestidos longos e rodados— com instrumentos de percussão e canções ancestrais.

O evento encerra com os sopros da Orquestra Aerofônica. Grupo formado por cinco instrumentos de sopro mistura rap, DJ e música paraense. Cantando trechos de músicas dos Racionais MCs e outros rappers conhecidos, ProEfx, DJ e vocalista da banda, transformou a apresentação que tinha cara de ser mais clássica em um show enérgico. A banda é uma das mais aguardadas pelo do evento.

Com 11000 pessoas nos dois dias, o saldo do BR 135 Instrumental é positivo e mesmo que ainda pequeno, consegue reunir ritmos e culturas brasileiras que em outras regiões são inéditas. O forró com beats, o reggae orquestrado e as guitarradas paraenses dão sinais de como a música amazônica se transformou e podem influenciar grandes nomes do mainstream. Vale ficar de olho nos próximos passos do festival maranhense.

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