Sons da Perifa

Sons da Perifa - Jairo Malta
Jairo Malta

Conheça Owerá, rapper que canta em guarani e tem trabalhos com Criolo e Alok

Em novo trabalho, artista reúne os povos Guarani Mbya, Tikuna, Xakriabá, Guarani Kaiowá e Huni Kuin

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São Paulo

Resistência da tradição, da língua nativa, da espiritualidade, essas são as mensagens que Owerá, 21 anos, transmite no seu segundo disco, "Mbaraeté", lançado em uma parceria com a Natura Musical. Com nove faixas, o álbum é uma jornada com começo, meio e fim que se desenrola em uma narrativa cheia de revolta e dor, mas também, com amor, acolhimento e paz.

Com uma mensagem direta em letras que misturam o português e o guarani, língua mãe do artista, o cantor se une ao seus familiares: Pará Retê, companheira e parceira musical, Tupã, seu filho, Olívio Jekupé, o pai, e, além deles, o artista também convidou para participar do álbum Kelvin Mbarete e Bruno Veron (Brô Mc’s), Célia Xakriabá, Djuena Tikuna, Txana Ibã e OzGuarani.

O rapper indígena Owera lança disco 'Mbaraeté'
O rapper indígena Owera lança disco 'Mbaraeté' - Igor de Paula/ Divulgação

Uma das curiosidades do álbum, é que ele foi feito para os povos indígenas como um chamado. Os trechos em guarani, por exemplo, não serão traduzidos, ou seja, somente quem conhece a língua vai saber o que Owerá diz nos versos.

Além disso, é uma obra que traz para o primeiro plano a diversidade de povos existentes no Brasil, ele reúne as etnias Guarani Mbyá, de São Paulo, Huni Kuin e Tikuna, da Amazônia, Xakriabá, de Minas Gerais, e também Guarani Kaiowá, que está em uma das regiões mais violentas do país para os povos indígenas, Mato Grosso do Sul.

Owerá vive na aldeia Krukutu, na região de Parelheiros, no sul da cidade de São Paulo. Ele ficou conhecido como o indígena que abriu a faixa "Demarcação Já" na abertura da Copa do Mundo de 2014, minutos antes de Brasil e Croácia começarem o jogo.

Desde então, ele estrelou o documentário My Blood Is Red (Prime Video /Vimeo On Demand) com Criolo e Sônia Guajajara, lançou o EP My Blood Is Red (Needs Must Film, 2017), o álbum Todo Dia É Dia de Índio (Bico do Corvo, 2018), além de vários singles como Demarcação Já - Terra Ar Mar feat Criolo (Matilha Cultural, 2019), Xondaro Ka’aguy Reguá (independente, 2020) e Jaguatá Tenondé (Let’s Gig, 2021), com o qual Owerá deixou de lado as rimas do RAP e apresentou um ritmo característico da cultura guarani, conhecido como música de rezo.

Importante destacar também o cypher Resistência Nativa (Matte Records, 2021), em parceria com o Oz Guarani e Brô MC´s e Resistir Pra Existir (Café8, 2022), que tem Kelvin Mbarete (Brô MC’s) como beatmaker e produtor musical.

O rapper indigena representou o Brasil, ao lado de Daniela Mercury, na comemoração dos 50 anos do Dia Internacional dos Direitos Humanos, em evento promovido pela ONU da América Latina, em 2020. Neste ano, Owerá foi vencedor, ao lado de Marcelo D2, Coletivo Imune e João Gordo, do Prêmio Arcanjo de Cultura, na categoria Música.

O artista também tem parceria com Alok —em breve, vão lançar uma música com título a ser definido, mas enquanto isso, fizeram a cerimônia de abertura do festival mundial Global Citizen 2021, direto da Amazônia. Ano passado também ganhou destaque no site da The White Feather Foundation, fundação de Julian Lennon, que apoia comunidades indígenas pelo mundo, foi citado pelo blog do Youtube como um dos cinco criadores indígenas de destaque, participou da Mostra Museu, com curadoria de Pedro Henrique França, e estrelou o especial Falas da Terra, da Rede Globo, ao lado de nomes como Ailton Krenak, Daniel Munduruku, Djuena Tikuna, etc. No final do ano, estampou a edição especial da Wired - Festival Brasil, que elencou os 50 nomes mais criativos de 2021.

Ao longo de dois anos, Owerá e Rod Krieger, seu parceiro de produção, trabalharam à distância na criação das faixas, não só devido à pandemia, mas também porque entre eles existe um oceano de distância. Enquanto Owerá vive na Aldeia Krukutu, em São Paulo, o brasileiro Rod Krieger vive em uma aldeia no interior de Leiria, em Portugal. "Foi uma experiência de muita conexão, não tínhamos ideia de como poderia dar certo, mas deu. Desde o início, cada etapa foi muito importante. Aprendi muito, só tenho a agradecer", comenta Rod.

Owerá também comenta sobre a troca que teve com Rod: "a luta não é só dos povos indígenas. A luta pela natureza é de todos. Agora chegou a hora das pessoas nos ouvirem. Parceiros como o Rod são pontes que nos ajudam a espalhar a mensagem. Precisamos dessa união para nos fortalecer. E hoje, depois de toda a experiência, eu me considero um produtor musical. Aprendi muito. Com certeza, abriu um novo universo pra mim".

O novo álbum foi gravado na Aldeia Krukutu, em São Paulo - Brasil e no estúdio Magic Beans, em Leiria - Portugal. Já as vozes foram registradas entre a Aldeia Krukutu, a Terra Indígena Xakriabá, em Minas Gerais, o estúdio Ayvú Records, na Aldeia do Bororó, no Mato Grosso do Sul, o estúdio Bico do Corvo, em Diadema, SP e o estúdio Legume, em Curitiba, PR.

Desde que deu início à carreira de músico/rapper, Owerá vem fazendo o que ele chama de Rap Nativo que nada mais é do que a manifestação do Rap em uma língua nativa, no caso a Guarani Mbya, em um ritmo que traz o beat embalado por sons da natureza e outros instrumentos tradicionais da cultura, como o violão, djembé e o maracá.

"O Rap Nativo é uma raíz do Rap Indígena. Nós falamos diretamente da nossa Terra, do nosso Território, com a nossa Língua, que resiste há mais de 500 anos para se manter viva. É uma luta diária que enfrentamos nas nossas terras. O Rap Nativo nasce daí, desse espaço de luta, mas, também, de celebração da nossa cultura, dos rituais e da nossa tradição", explica Owerá.

O projeto de Mbaraeté foi selecionado pelo programa Natura Musical, através do Edital 2020, ao lado de nomes como Linn da Quebrada, Bia Ferreira, Juçara Marçal e Rico Dalasam. Ao longo de 17 anos, Natura Musical já ofereceu recursos para mais de 150 projetos no âmbito nacional, como Lia de Itamaracá, Mariana Aydar, Jards Macalé e Elza Soares.

"Nós acreditamos no impacto transformador que a música pode ter no mundo. E os artistas, bandas e projetos de fomento à cena selecionados pelo edital Natura Musical têm essa potência de mobilizar o público na construção de um mundo mais bonito, cada vez mais plural, inclusivo e sustentável", afirma Fernanda Paiva, Head of Global Cultural Branding.

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