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Universidades em defesa da vida

A telessaúde foi ampliada e aprimorada pelas universidades públicas na pandemia

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São Paulo
Imagem ilustrando duas pessoas relacionando ao sistema de prestação de serviços de saúde à distância (Telessaúde).
Daniel Bueno/SoU Ciência

Com este artigo iniciamos uma série sobre a atuação das universidades públicas federais durante a pandemia de Covid-19, num contexto em que o governo federal afrontou evidências, produziu fake news, subfinanciou o SUS, atacou estados e municípios, desprestigiou os profissionais de saúde que atuavam na linha de frente em cenário de guerra, negou a ciência e a vacina - retardando, inclusive, sua compra e aplicação – e foi insensível com o adoecimento de milhões e com a morte de centenas de milhares de brasileiros.

Apesar do contexto adverso, as universidades públicas, articuladas com o SUS, tornaram-se bastiões fundamentais em defesa da vida. Foram protagonistas da produção de ciência em tempo real, referências no cuidado e no acolhimento, no apoio aos doentes e suas famílias, em especial das pessoas em situação de vulnerabilidade.

O Centro SoU_Ciência, em parceria com a Andifes (Associação Nacional de Dirigentes de Instituições Federais de Ensino) realiza uma pesquisa sobre o tema e em junho publicará um Painel apresentando todas as frentes de atuação e iniciativas de nossas universidades federais, seus hospitais universitários, laboratórios de pesquisa e inovação tecnológica, ações sociais e de extensão, sistemas de monitoramento e orientação a gestores. O resultado da mobilização das universidades, em seus diversos cursos, não apenas na área da saúde, tem sido uma impressionante força biopolítica, na garantia de direitos e em defesa da vida, diante da necropolítica que nos cerca – não à toa as universidades públicas foram um dos principais alvos de ataques do obscurantismo que preside o país.

Dentre as reconfigurações, novos arranjos e inovações implementadas para atuação na pandemia. Entre diversas outras, chama a atenção e merece destaque a expansão das ações no campo da telessaúde, abarcando um conjunto de iniciativas e modalidades de saúde digital.

A Covid-19 produziu novo impulso global na telessaúde, tendo em vista a necessidade emergencial de realizar orientações e triagens para desafogar o sistema hospitalar – já hiperlotado e à beira do colapso. No Brasil, as universidades públicas, desde o primeiro mês da pandemia, foram fundamentais no avanço da telessaúde em várias modalidades, assim como no desenvolvimento de aplicativos e sites, na colaboração com o SUS, e no atendimento à distância.

Milhares de estudantes e docentes da área de medicina, enfermagem, fisioterapia, terapia ocupacional, serviço social, nutrição e psicologia foram mobilizados. E, na outra ponta, estudantes de tecnologia da informação, ciências da computação, engenharias, design, comunicação e jornalismo, na produção de novos softwares e apps, painéis de monitoramento, visualização de dados, georreferenciamento e desenvolvimento de bancos de dados em tempo real.

Na pesquisa realizada pelo SoU_Ciência, 59% das universidades federais declararam ter atuado fortemente no avanço da telessaúde e instaurado novos centros e sistemas em parceria com laboratórios de tecnologia, prefeituras, governos estaduais e, claro, com o SUS. Os números apresentados no gráfico abaixo são dinâmicos e poderão crescer com a mudança na conjuntura, com aumento provável da telereabilitação em função da Covid longa, ou mesmo com atualização de dados no painel do SoU_Ciência.

Gráfico com informações das universidades que realizaram ações de telessaúde durante a pandemia. Das 39 instituições respondentes, 23 utilizaram o sistema de prestação de serviços de saúde à distância.
Meyrele Nascimento/SoU_Ciência

As modalidades de atuação são: Teleorientação via ligações telefônicas, mensagens, emails e plataformas virtuais com foco em pessoas em situação de vulnerabilidade social, na prevenção e ao enfrentamento da pandemia; Teletriagem, verificando gravidade e conduta em cada caso, evitando a sobrelotação do sistema e encaminhamento para atendimento quando necessário; Teleatendimento realizando consultas na modalidade remota para pacientes suspeitos ou com diagnóstico positivo de Covid-19; Teleconsultoria especializada para atender demandas e dúvidas de profissionais de atenção primária e gestores; Telemonitoramento no acompanhamento de casos confirmados de Covid 19 de grupos específicos (como idosos ou populações de territórios vulneráveis); e Telereabilitação com atividades físicas online, terapia ocupacional e fisioterapia de forma preventiva (durante o período de isolamento social) e terapêutica para o pós Covid (ou Covid longa).

Alguns exemplos mostram a capilaridade das iniciativas. A Federal da Bahia (UFBA) estabeleceu um dos maiores sistemas de atendimento, o "Tele Coronavírus" em parceria com a Fiocruz Bahia, mobilizando 1,2 mil estudantes da área de saúde e 70 professores voluntários. A Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) criou um aplicativo de teleorientação e autoatendimento que foi utilizado em vários estados, desenvolvido por seu Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde. Já a Federal do Espírito Santo (UFES) teve projeto premiado voltado à criação de uma ferramenta para auxiliar profissionais da saúde mental no tratamento de pessoas que tenham desenvolvido fobia social desencadeada pela pandemia.

A Federal de Lavras (UFLA) criou um Ambulatório Virtual e o app Mais Saúde em Casa. Por sua vez, a Federal de Minas (UFMG) estruturou a Rede de Teleassistência de Minas Gerais e o sistema de teletriagem do estado. A Federal do Oeste da Bahia (UFOB) forneceu teleconsultoria a profissionais do SUS que atendem meio milhão de habitantes na região. No Sul, a Federal de Pelotas (UFPel) e suas startups Fácil Consulta e Ideorum-data health criaram um prontuário eletrônico unificado com teleconsulta.

No interior de São Paulo, a Federal de São Carlos (UFSCar) promoveu telereabilitação pulmonar pós-infecção e terapia ocupacional online. A Federal do Tocantins (UFT) criou o programa UMAnizando no apoio a idosos isolados, com suporte que incluiu compras em supermercados e farmácias por estudantes voluntários.

A mobilização das universidades em todas essas frentes, com diferentes áreas de conhecimento se associando no desenvolvimento de tecnologias e sistemas, com a ampliação das equipes de atendimento e a formação de estudantes em tempo real, sempre sob supervisão, trouxe avanços fundamentais na formação de profissionais e no atendimento em massa à população.

Diferentemente de outras ações emergenciais temporárias, como hospitais de campanha, a ampliação da telessaúde deve ser consolidar no SUS como modalidade de acompanhamento e de suporte rotineiras, cumprindo um papel complementar importante nos sistemas de prevenção, orientação e cuidado.

A atuação no combate ao vírus, baseada em evidência científica, organizada como política pública e comprometida com a defesa do povo brasileiro é um aprendizado que irá marcar a história do país, das universidades e, em especial, dos nossos estudantes: uma geração de jovens profissionais marcada pela vivência desse momento de mutirão nacional em defesa da vida.

Nos próximos artigos comentaremos a atuação das universidades na pesquisa clínica e de vacinas, no apoio às escolas públicas, na área de saúde mental, no combate à pobreza e à fome, no assessoramento a governos e gestores, na produção de equipamentos hospitalares, entre outros temas.

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