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A volta da pandemia que não foi

Novo aumento de casos já é realidade; remédio é mais investimento em ciência

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São Paulo
Ilustração mostra uma mulher entrando em um ambiente com símbolos do coronavírus ao redor. A imagem remete ao aumento aumento no número de casos de covid-19.
Meyrele Nascimento/SoU_Ciência

Vivemos um novo aumento no número de casos de covid-19 e várias dúvidas surgem: Devemos soar o alarme e voltar ao isolamento? Devemos nos preocupar ainda mais com o aumento de óbitos? Estamos entrando em uma quarta onda? Quando vamos nos livrar, de fato, da pandemia?

São perguntas importantes e para as quais não temos respostas definitivas. Uma possível resposta, parece um tanto distante, já que não temos uma política clara para reconhecer e combater novas emergências e reemergências sanitárias. Assim como em diversos momentos da pandemia, que começou em 2020 e que ainda não acabou, as medidas estão sendo tomadas de maneira aleatória por instituições e municípios ou pelos indivíduos. A responsabilidade do Estado brasileiro foi totalmente transferida para os que puderem ou quiserem tomar providências.

Enquanto isso, universidades e municípios por todo o país voltam a recomendar o uso de máscara em lugares fechados – uma medida de prevenção simples e eficaz, abandonada precocemente. A orientação também foi feita pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para as pessoas que circulam dentro do Tribunal diante da elevação de casos no Distrito Federal. Está claro agora o que a ciência e cientistas disseram há cerca de 2 meses: era cedo para flexibilizar completamente o uso de máscaras.

Por isso, novamente é preciso reafirmar que decisões como estas devem ser baseadas em evidências científicas e as pesquisas realizadas ao longo destes dois últimos anos ensinaram muitas coisas. Sabemos que o SARS-CoV-2 tem alta capacidade de mutação e que agora a variante Ômicron, ainda mais transmissível que a original e que a Gama e Delta, encontrou uma forma de criar subvariantes.

O vírus tornou-se capaz de infectar alguns animais, que podem ser produtores de novas variantes que tornam a infectar seres humanos, criando um círculo nada virtuoso. No momento, temos a continuidade da onda da Ômicron, causada pela subvariante BA.2. Quantas variantes mais vamos ter? Ainda não sabemos e tudo indica que teremos que conviver com o SARS-CoV-2 por um bom tempo.

Isso não significa que vamos nos isolar ou que vamos voltar às condições de gravidade de 2020 e parte de 2021, pois a ciência nos providenciou as vacinas, que são as grandes responsáveis pelo número mais reduzido de casos graves e óbitos. Mas, teremos que ter sistemas de vigilância permanentes e um manejo para cada cenário epidemiológico e para isso é preciso a continuidade das pesquisas, do SUS e das políticas públicas.

Por esses e outros motivos, o agora velho SARS-CoV-2 continua nos desafiando com a velha máxima socrática e que acompanha a vida dos cientistas: "só sei que nada sei" e que nos leva à reflexão sobre a nossa ignorância humana, mas também da importância da busca do conhecimento para nos salvarmos da barbárie.

No Brasil tivemos muitos cientistas trabalhando, mesmo em condições adversas e diante de cortes orçamentários. São estudos genômicos, epidemiológicos, sociológicos, tecnológicos, além das novas vacinas que deverão estar disponíveis em breve, pois as pesquisas continuam. Estudar o coronavírus para criarmos formas de controle, este parece ser o caminho mais provável.

Por isso também será necessário garantir o investimento na ciência, garantir que os cientistas brasileiros possam trabalhar e que nossas universidades e institutos de pesquisas possam continuar salvando vidas.

O tema, inclusive, foi apresentado em um Seminário conjunto com a Folha de S. Paulo e o Instituto Serrapilheira no último dia 31 de maio. O evento com a presença de pesquisadores de referência: Fernanda de Negri (Ipea), Nelson Amaral (UFG) e Helena Nader (ABC) e pode ser acessado na íntegra aqui.

Diante dos desafios que estamos vivendo, a ciência foi e continuará sendo uma ferramenta fundamental. As soluções vêm de medidas simples, mas eficazes. Para além das vacinas, é preciso manter os protocolos de higiene, o uso de máscara, além de refletir sobre uma vida mais saudável, com menos depredação dos ecossistemas e que viabilize a saúde do meio ambiente, animal e humana, em uma tríade virtuosa.

O SARS-CoV-2 nos fez refletir sobre a vida, sobre a ciência e sobre a possibilidade de um futuro diferente e mais sustentável. Não podemos apagar todas as lições, por mais dolorosas que sejam e por mais que tenhamos o desejo de nunca as ter vivido. Neste sentido, a educação e a ciência são transformadoras e, por esta razão, são e continuarão sendo emancipadoras. Cabe a nós cobrar condições e fazer o conhecimento continuar crescendo e transformando positivamente a nossa realidade.

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