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A 'Universidade Necessária' de Darcy Ribeiro emerge na pandemia

Painel mostra universidades enfrentando Covid-19 mesmo com cortes de verbas

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São Paulo
Ilustração com duas pessoas acessando um painel disponível em uma plataforma online com informações sobre a atuação das universidades federais na pandemia.
Meyrele Nascimento/SoU_Ciência

Darcy Ribeiro, que em 2022 completaria 100 anos, havia proposto nos anos 1960 um programa para a "Universidade Necessária" ao Brasil, publicado em livro de mesmo nome. Eram 55 propostas, sintéticas e diretas, que constituíam a base fundamental da Reforma Universitária interrompida pelo Golpe de 1964. O antropólogo e educador, que havia sido Ministro da Educação e no momento do golpe ocupava a Casa Civil, fora deposto como Jango. Mas, 60 anos depois, a pandemia fez com que a Universidade Necessária imaginada por aquela geração ressurgisse.

Mesmo sem apoio governamental, sofrendo ataques ideológicos e sucessivos cortes orçamentários, o sistema público de educação superior, ciência e tecnologia atuou na defesa da vida e da sociedade brasileira de forma exemplar, nas mais diversas áreas de conhecimento e regiões do país, como força civilizatória diante da barbárie e da necropolítica.

Nossa atuação no combate à pandemia seguiu alguns dos princípios mais importantes do programa da "Universidade Necessária": a) o compromisso com o povo brasileiro; b) a resolução de problemas que afetam o país; c) a responsabilidade social no uso de recursos; c) a comunicação com a sociedade; d) a transformação de conhecimento em serviço público.

O Centro SoU_Ciência, em parceria com a Andifes (Associação Nacional de Dirigentes de Instituições Federais de Ensino) mapeou mais de mil ações de 39 universidades federais durante dois anos de pandemia e produziu um painel multimídia contando a história de quem esteve do lado da vida nestes anos tenebrosos. Um mapeamento feito em colaboração com as direções das universidades e seus comitês de enfrentamento da pandemia, que nos enviaram inúmeros dados para análise e apresentação pública.

O painel, lançado nesta última quarta-feira, apresenta um resumo das principais ações realizadas, incluindo pesquisas experimentais e clínicas, aplicação de testes, desenvolvimento de vacinas e fármacos, estudos epidemiológicos, atuação na atenção e serviços dos hospitais e ambulatórios universitários, na formação de profissionais e orientação de gestores públicos e produção de estudos socioeconômicos e ambientais.

A plataforma também registra o desenvolvimento de softwares e novos equipamentos para monitoramento da pandemia, produção de farto e plural material de comunicação, iniciativa de direitos humanos contra a violência doméstica, no apoio à educação básica e às populações em situação de vulnerabilidade, incluindo, principalmente, o combate à fome.

Com uma linguagem leve e amigável, o painel apresenta as ações organizadas por temas ou por universidades, e um conjunto de estudos de caso narrando boas práticas, com textos, infográficos e vídeos. Ao longo do segundo semestre de 2022, mais estudos de casos e vídeos serão incluídos, bem como a análise da produção dos quase 10 mil artigos científicos com autores brasileiros sobre Covid-19. Estamos ainda em tratativas para incluirmos as universidades estaduais e institutos públicos de pesquisa como a Fiocruz e o Butantan, com suas especificidades.

A mobilização das universidades públicas, de estudantes, professores técnicos e cientistas foi e segue sendo uma impressionante reação ao obscurantismo. Nestes anos, a ciência passou a ser reconhecida no Brasil como força ativa e mesmo política na defesa da cidadania. Não à toa fomos um dos principais alvos de ataques das forças do atraso, com sistemáticos cortes orçamentários e vitimados pela guerra ideológica com acusações delirantes sobre o ambiente universitário.

A plataforma Universidades em Defesa da Vida é uma fonte de informação à população e fortalece a defesa das instituições públicas de educação superior. Servirá como registro para os historiadores do futuro, que saberão distinguir quem esteve ao lado da vida ou ao lado da morte nessa encruzilhada trágica que vivemos.

A atuação das universidades públicas em defesa do povo brasileiro é um aprendizado que irá entrar para a história do país e, em especial, marcará a história de vida dos nossos estudantes – que retomaram, em plena adversidade, o ideal de uma Universidade Necessária ao povo brasileiro. Com compromisso e lucidez, formamos nestes anos jovens cidadãos e profissionais que já fizeram e farão a diferença na reconstrução e reinvenção tão urgente de nosso país.

Equipe técnica envolvida na produção da pesquisa e do painel: Soraya Smaili, Pedro Arantes, Débora Foguel, Hironobu Sano, Vanessa Sígolo, Jade Percassi, Thais Cavalcante, Meyrele Nascimento, Ana Beatriz Peres, Ana Paula Cruz, Pedro Antonelli.
Assessores científicos: Arthur Chioro, Pedro Hallal, Luiz Carlos Dias, James Holston, Lumena Furtado.

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