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Espionagem de jornalistas mostra democracia em risco em El Salvador

Mais de 20 repórteres, editores e diretores do El Faro tiveram telefones hackeados

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Buenos Aires

No mesmo dia em que a ONG Human Rights Watch lançou sua edição número 32 sobre a situação dos direitos humanos em mais de 100 países, um dos pontos de destaque do relatório ganhou mais um episódio negativo, em El Salvador, e que gera preocupações.

Entre outras coisas, o documento joga luz a ameaças e ataques a jornalistas em vários países da América Latina, não apenas por parte de sistemas ditatoriais, mas também de autocracias e democracias.

E não passaram muitas horas entre a apresentação em coletiva de imprensa do documento até o anúncio da notícia, terrível para o jornalismo independente da região.

O premiado El Faro, principal meio de comunicação da América Central, afirmou que os telefones da maioria de seus funcionários tinham sido hackeados pelo Pegasus, o programa produzido pela empresa israelense NSO Groups, que já foi sancionado pelo governo dos EUA por ter sido usado para espionar jornalistas e ativistas de direitos humanos em várias partes do planeta.

O El Faro diz que a espionagem foi confirmada por um trabalho realizado pelo Citizen Lab, da Universidade de Toronto.

Para quem não acompanha a publicação, o El Faro é uma verdadeira pedra no sapato do autocrata Nayib Bukele. Foi por meio do jornalismo investigativo do site que foram denunciados os vínculos clandestinos entre o governo salvadorenho e as "maras" (facções criminosas), os desvios das ajudas para os afetados pela pandemia do coronavírus, escândalos de corrupção e a negociação de "tréguas" com os grupos violentos em troca de favores políticos.

A jornalista Julia Gavarrete, do El Faro, veículo salvadorenho que teve mais de 20 profissionais hackeados
A jornalista Julia Gavarrete, do El Faro, veículo salvadorenho que teve mais de 20 profissionais hackeados - Jessica Orellana/Reuters

Bukele já tentou por várias vias sufocar economicamente o El Faro. Seus jornalistas recebem constantemente ameaças e alguns já deixaram o país temporariamente depois de investigações sensíveis.

Bukele nega ser quem contratou o serviço de espionagem. Mas, como afirmou seu chefe de redação, Óscar Martínez, em texto publicado no El País: se não o presidente, quem? Afinal, o NSO Group só vende serviços de espionagem a governos, e Bukele tem seu histórico de estar com o foco posto no El Faro há tempos.

Em seu relatório divulgado nesta quinta-feira (13), o Human Rights Watch aponta para as preocupações com a democracia e o Estado de Direito em El Salvador.

"O presidente Nayib Bukele e seus aliados no legislativo destituíram sumariamente os juízes da Suprema Corte com os quais discordavam, nomeando novos membros, e aprovaram leis para demitir centenas de juízes e promotores de cargos inferiores. Os então recém-nomeados juízes da Suprema Corte decidiram que Bukele poderia se candidatar à reeleição consecutiva, apesar da proibição constitucional. O governo também propôs um projeto de lei sobre "agentes estrangeiros" que restringiria severamente o trabalho de jornalistas independentes e organizações da sociedade civil."

O capítulo dos avanços de Bukele sobre a democracia parece ir ganhando mais e mais páginas

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