Sylvia Colombo

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William e Kate passam saia justa em visita ao Caribe

Na Jamaica, no Belize e nas Bahamas houve protestos contra a colonização e o legado britânicos

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Buenos Aires

Já seria hora de a rainha Elizabeth 2a deixar de ser a chefe de Estado de países que foram colônias britânicas na América Latina e no Caribe? Barbados já decidiu que sim, e realizou sua cerimônia de separação da coroa em novembro do ano passado. A família real agiu com condescendência, enviando o príncipe Charles _primeiro na linha de sucessão_ para sorrir e apoiar os locais, mantendo as aparências.

Mas a lista de países do lado de cá do Atlântico que ainda têm o monarca britânico como líder (ainda que simbólico) do Estado ainda é grande. Para acalmar os ânimos de ativistas que se entusiasmaram com a iniciativa de Barbados, a rainha enviou duas joias de sua coroa para espalharem sua simpatia por Jamaica, Belize e Bahamas. Afinal, neste 2022, comemoram-se os 70 anos de seu reinado, e a família real não quer estragar a foto da festa.

Os três países são independentes, mas continuam sendo parte da Commonwealth e mantêm a Rainha como chefe de Estado. A ideia era que os duques de Cambridge viajassem para mostrar que não há contradição nisso, os tempos de opressão já estão longe e agora todos devem ser amigos. Muitos habitantes desses países, porém, não concordam com a ideia e preferem uma separação total, como fez Barbados.

O príncipe William, numa cerimônia durante sua visita às Bahamas
O príncipe William, numa cerimônia durante sua visita às Bahamas - Chandan Khanna/France Presse

Durante a visita, houve protestos, cartas e palavras duras à família real, em geral exigindo um pedido de desculpas formal. Este não veio, apesar de algumas palavras amenas de William na tentativa de colocar panos quentes na discussão.

O primeiro susto foi no Belize, quando o casal foi impedido de aterrissar seu helicóptero numa região em que os camponeses estavam contra a visita. Passado o contratempo, William e Kate estiveram numa região de ruínas maias e numa plantação de cacau.

Foi na Jamaica que a resistência se mostrou mais forte. O país comemora em agosto os 60 anos de sua independência, e muitos jamaicanos creem que já passou da hora de retirar a figura da rainha como cabeça de um estado que já é livre há tanto tempo. Mais, um grupo de mais de 200 intelectuais e figuras de destaque da sociedade pediu que a família real se desculpasse pelas dores e danos causados ao país pela escravidão e pela colonização e oferecesse algum tipo de reparação.

A carta por eles assinada diz: "Não vemos razão para celebrar os 70 anos da ascensão de sua avó ao trono do Reino Unido porque sua liderança, assim como a de seus predecessores, perpetuaram a maior tragédia de direitos humanos da história da humanidade. Não temos nada a celebrar nos 70 anos de reinado da rainha, porque para nós foram anos de muito sofrimento".

O texto ainda convocava a monarquia e o governo do Reino Unido a darem "uma desculpa pública pelos crimes contra a humanidade cometidos pelos britânicos, incluídos aí a exploração dos indígenas da Jamaica, o tráfico de escravos, a exploração de bens de nossa terra e a colonização em geral".

Se William e Kate estavam esperando apenas tomar sol, velejar e dançar ritmos locais, a recepção não foi exatamente a esperada. O documento ainda acusava o casal, especificamente, de serem "beneficiários diretos da exploração do Caribe".

Manifestantes protestam contra a presença do duque e da duquesa de Cambridge na Jamaica
Manifestantes protestam contra a presença do duque e da duquesa de Cambridge na Jamaica - Kate Chappel/Reuters

Numa manifestação em Kingston, na Jamaica, às portas de uma recepção oficial do governo local ao casal, havia cartazes que perguntavam: "quem votou na Rainha? Eu não", ou diziam: "Vocês pertencem a contos de fadas, não à Jamaica".

Em seu discurso final, William tentou dar uma resposta aos protestos, mas sem promessas nem desculpas formais. "Eu concordo com meu pai, que disse recentemente em Barbados que a escravidão foi uma atrocidade que marcará para sempre nossa história. Expresso minha profunda tristeza. A escravidão foi uma coisa abominável, que nunca deveria ter acontecido".​

Se as palavras do príncipe oferecem algum conforto, ainda não são as desculpas formais que esses países esperam dos britânicos. E uma das reflexões da rainha nesta comemoração de seus 70 anos de reinado deveria ser, de fato, se faz algum sentido que ela seja a monarca de nações tão distantes do Reino Unido e que tanto sofreram durante a colonização britânica.

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