Sylvia Colombo

Latinidades

Sylvia Colombo - Sylvia Colombo
Sylvia Colombo

Vargas Llosa vem a Buenos Aires e é abraçado pela direita argentina

Nobel peruano esteve na Feira do Livro, logo depois de internação por pneumonia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Buenos Aires

Há pouco mais de duas semanas, o Nobel peruano dava um susto no mundo da literatura, ao ser internado com uma pneumonia, por conta de uma contaminação por coronavírus, numa clínica em Madri, onde vive.

Mal recebeu alta, Mario Vargas Llosa subiu num avião e veio à Feira Internacional do Livro de Buenos Aires (que ocorre entre 28 de abril a 16 de maio), que pela primeira vez acontece de modo presencial depois de dois anos de interrupção por conta da pandemia.

Apoiado por uma bengala, com olhar abatido, 86, mesmo assim se submeteu a uma agitada agenda. Na Feira, caminhava rodeado de assistentes e provocando curiosidade nos presentes. Na sexta-feira (6), seu primeiro compromisso foi uma palestra ao lado do espanhol Javier Cercas, sobre literatura.

O encontro foi realizado para celebrar um convênio entre a Cátedra Vargas Llosa e a Fundación El Libro (entidade civil que reúne editoras, livrarias, escritores e que promove a feira). A decisão, que tem como objetivo dar bolsas e fomentar prêmios a novos autores, não agradou a todo o mundo literário argentino. Isso porque, nos últimos tempos, Vargas Llosa, um esquerdista em sua juventude, foi se radicalizando cada vez mais à direita, tendo apoiado recentemente a filha de seu maior rival, Keiko Fujimori, nas eleições do Peru, e o ultradireitista José Antonio Kast, que acabou derrotado no Chile. Vargas Llosa está também associado à Fundación Libertad, uma ONG internacional, que te sede em Rosário e que reúne partidos de direita do continente.

Para o perfil mais progressista da Feira do Livro e de seus frequentadores, a presença de Vargas Llosa foi, portanto, um pouco incômoda.

O escritor peruano Mario Vargas Llosa, durante intervenção na Feira do Livro de Buenos Aires, na última sexta-feira
O escritor peruano Mario Vargas Llosa, durante intervenção na Feira do Livro de Buenos Aires, na última sexta-feira - Luis Robayo/France Presse

Não tanto, porém, a seus fãs, que lotaram a maior sala da feira, que ocorre nos pavilhões da Sociedad La Rural, e aplaudiram o Nobel em várias oportunidades.

Vargas Llosa falou do poder do idioma espanhol, afirmando que foi "o que de bom a Espanha deixou na colonização, pois nos podemos entender do México até a Argentina e também na Espanha. Podemos ler-nos uns aos outros e também ao mundo".

Depois, como em várias outras ocasiões anteriores, contou um pouco de sua trajetória intelectual. "Aprendi francês na Alianza Francesa de Lima, me preparei para escrever em francês. Mas quando fui a Paris, descobri o mundo latino-americano e mesmo o peruano, pois vários escritores latino-americanos estavam por lá. Meu interesse pela América Latina aumentou veio com a Revolução Cubana (1959)".

Afirmou que a literatura é necessária para vigiar e confrontar governos e autocracias: "A literatura é fundamental. Os governos querem nos convencer de que as coisas estão bem feitas, de que a realidade vai bem, e a literatura nos diz que não, nos expõe os problemas. Precisamos ser conscientes de que não podemos tolerar a ingerência de governos na criação artística".

No domingo (8), Vargas Llosa apresentou seu mais recente livro, "La Mirada Quieta", que trata da obra do escritor espanhol Benito Pérez Galdós.

Mesmo com a agenda lotada na feira do livro, Vargas Llosa encontrou tempo para um encontro político. Aceitou um convite do ex-presidente Mauricio Macri para um almoço, no sábado, em sua casa de campo, próxima a Buenos Aires, onde estavam presentes várias lideranças da aliança oposicionista Juntos por el Cambio, que ambiciona voltar ao poder no ano que vem, quando há eleições presidenciais na Argentina.

Além do ex-mandatário, estavam presentes a ex-ministra Patricia Bullrich e o ex-governador de Mendoza Alfredo Cornejo. Macri divulgou diversas fotos ao lado do Nobel, conhecido por suas ferozes críticas ao peronismo e ao kirchnerismo.

Pouco antes de embarcar, Vargas Llosa afirmou que "a Argentina é um total sem sentido. Tem todos os recursos naturais e humanos para ser líder na economia, mas permanece refém de um grupo de autoritários, encabeçados por Cristina Kirchner, que mantém o país no atraso, na inflação e na pobreza, defendendo um anticapitalismo obsoleto".

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.