Nos últimos quatro anos não foram poucos os episódios das chamadas cortinas de fumaça. O método do último governo se utilizava de falas ou performances curtas e diretas que atingem diretamente o direito básico de uma população minorizada, fazendo grande barulho nas timelines, e, teoricamente, encobrindo um fato maior, como por exemplo o envolvimento de agentes públicos em escândalos ou denúncias de difícil explicação à grande massa.
É mais fácil e rápido compreender e tomar partido quando um parlamentar transfóbico sobe à tribuna da Casa do Povo, coloca uma peruca na cabeça e diz se sentir mulher do que quando complexas reportagens apontam para uma possível pressão por parte do ex-presidente Jair Bolsonaro para o recebimento de jóias enviadas como presentes por uma ditadura sanguinária muito distante.
Os próximos capítulos e o algoritmo ditarão os passos seguintes dessas duas histórias. Sobre a primeira, da transfobia, hoje há quem possa dizer que o deputado transfóbico é só um menino que quer chamar atenção. Outros podem falar que a irritação diante dos atos ofensivos é identitarismo barato de uma geração mimizenta que não aguenta críticas, e que quem ganha popularidade é justamente o próprio algoz da trama. E existe também o caminho da responsabilização e da disseminação do conhecimento, a terceira via, que serve para os dois episódios.
Vamos a ela. Não deveria haver espaço para transfobia no Brasil, menos ainda no Congresso Nacional. Somos o país que mais mata pessoas trans no mundo, ninguém deve ser xingado, agredido fisicamente ou morto por apenas existir. Que sejam devidamente punidos todos os transfóbicos. E responsabilização também deveria ser a palavra de ordem no caso de agentes públicos comprovadamente corruptos. Essa é a lei.
Ficamos, cada um ao seu modo, um tanto quanto perdidos depois de acompanhar presidentes, aqui e lá fora, fazendo performances e vivendo de verborragia no Twitter e em outras redes sociais, como se fossem adolescentes mimados. Mas é preciso lembrar que estamos (ainda) no mundo dos adultos, no qual quem erra precisa ser responsabilizado. A nós, leitores, eleitores e usuários de redes sociais cabe consumir, nessa circunstância, o noticiário de forma adulta, com um grau a mais de atenção.
Há o entendimento de que fixamos, valorizamos, curtimos e compartilhamos o que é bonito, bizarro, brilhante, que leva segundos para ser absorvido. É que cortinas de fumaça não se criam sozinhas.
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