Virada Psicodélica

Novidades da fronteira da pesquisa em saúde mental

Virada Psicodélica - Marcelo Leite
Marcelo Leite

Chega de molecagem: 2022 é o ano para voltar a ser menino

Este blog entra em recesso até algum momento de janeiro; boas entradas

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São Paulo

Todo mundo deveria ter oportunidade de experimentar, uma vez na vida, pelo menos 2g de cogumelos Psilocybe cubensis desidratados (como já vai se tornando realidade em alguns estados e cidades dos EUA e em breve poderá ser o caso do Canadá). Ver de novo cada coisa do mundo como se fosse a primeira vez, com a emoção do menino que acha girinos e guarus nos charcos de Ubatuba.

Sem sair do lugar, dar uma volta de jipe com a prima mais velha e seu namorado estudante de medicina. Adivinhar o modelo do carro de trás, em disputa com o irmão, só com base no formato e distância entre os faróis (bem possível no tempo em que quase só havia Fuscas, DKWs, Kombis e AeroWillys). Pôr a mão aberta para fora da janela só para senti-la empurrada pelo vento.

Dois fungos pequenos de chapéu marrom e haste branca, do gênero Psilocybe, ao qual pertencem os chamados "cogumelos mágicos"
Cogumelo "mágico" do gênero Psilocybe - Divulgação / Imperial College London / Thomas Angus

Aprender a nadar no mar com a mão firme da mãe a sustentar o corpo franzino. Procurar caramujos entre as pedras do canto da praia no Litoral Norte paulista. Puxar a corda da rede de arrastão, sob o olhar complacente dos pescadores, e ajudar a separar os peixes pequenos, sem valor, para devolver na água.

Sentir com os pés as bolachas de praia e estrelas na areia do fundo do mar e mergulhar para pegar com a mão. Admirar-se com a miríade de pezinhos em movimento em cada braço. Ver a lua nascer vermelha e enorme no horizonte do oceano com água até o pescoço. Fazer castelos pingando areia molhada entre os dedos.

Praia deserta de areia branca em Ubatuba, com riacho ou braço de mar e montanhas verdes ao fundo
Praia da Fazenda, em Ubatuba - Divulgação/Loucos Por Praia

É perfeitamente possível revisitar essa Ubatuba, ou qualquer outro lugar que não existe mais, mas vive dentro de cada um. Só depende de nós. Não para escapar na memória, mas para reviver o sentido da descoberta, da emoção primeira, da novidade, da interrogação. Para voltar os olhos para o que pode ser, não para o que se perdeu, pois por definição o passado não pode ser melhor do que o futuro imaginado.

O Brasil anda distante disso. Foi tomado por um bando de moleques ressentidos, sádicos, eleitos pelo voto de gente que gosta de se iludir ou de fazer sofrer. Gente para quem matar e torturar pode ser aceitável. Não é. Cabe a nós provar que não.

*

Este blog entra em recesso até algum momento de janeiro. Bom 2022 para todos, inclusive para quem está em dívida com a criança dentro de si e com todas aquelas que Jair Bolsonaro se recusa a vacinar.

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Para saber mais sobre a história e novos desenvolvimentos da ciência nessa área, inclusive no Brasil, procure meu livro "Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira".

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