Virada Psicodélica

Novidades da fronteira da pesquisa em saúde mental

Virada Psicodélica - Marcelo Leite
Marcelo Leite
Descrição de chapéu Mente

Psilocibina reduz consumo de álcool por dependentes

Estudo na revista Jama Psychiatry constata recuo de 83% no uso excessivo

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São Paulo
Cogumelos da espécie Psilocybe cubensis, que contém a substância psicodélica psilocibina
Cogumelos da espécie Psilocybe cubensis, que contém a substância psicodélica psilocibina - (Divulgação)

A Folha já publicou tradução de reportagem do jornal The New York Times sobre o estudo, mas este blog não poderia deixar de registrar o resultado obtido pelo Centro Langone para Medicina Psicodélica, da Universidade de Nova York, no tratamento experimental com psilocibina para alcoolismo. Uma redução de 83% no consumo abusivo de álcool, afinal, é digna de nota.

O ensaio clínico duplo cego com grupo de controle por placebo ativo (um anti-histamínico) saiu no conceituado periódico Jama Psychiatry, da Associação Médica Americana. Foi até aqui o estudo de psilocibina com maior número de participantes, 93 (dos quais 42 mulheres), acompanhados ao longo de oito meses.

Os voluntários tomaram duas doses de placebo ou psilocibina, um psicodélico clássico originalmente oriundo de cogumelos do gênero Psilocybe, ditos "mágicos". No ensaio clínico empregou-se substância de origem sintética, ministrada em duas ocasiões separadas por um mês.

Em paralelo, todos os 93 participantes receberam 12 sessões de psicoterapia, 4 antes da primeira dosagem, 4 no mês de intervalo e 4 após a segunda dose, mais forte. Depois, ao longo de 32 semanas, a equipe os entrevistava regularmente para estabelecer quantos dias de ingestão intensa de álcool tinham acontecido (testes químicos em metade dos pacientes confirmaram que falavam a verdade).

No grupo que tomou psilocibina, as bebedeiras aconteceram em 9,7% dos dias naquelas 32 semanas (uma redução de 83%). No do placebo, em 23,6% dos dias (queda de 51%). Quase metade (48%) do primeiro grupo tinha parado completamente de beber, contra 24% no outro.

O estudo enfrentou limitação comum a testes que comparam psicodélicos com placebo: 95% dos voluntários adivinharam corretamente quem tomara psilocibina ou o anti-histamínico, na prática rompendo o esquema duplo cego. Não se pode, assim, excluir que o efeito benéfico seja fruto da própria expectativa do participante.

Não é a primeira vez que se investiga um psicodélico para tratar alcoolismo. Nos anos 1950-60 houve várias pesquisas do tipo com LSD, com bons resultados, até que a substância se tornasse proibida na Guerra às Drogas iniciada pelo presidente americano Richard Nixon.

No Brasil, uma equipe da USP de Ribeirão Preto planeja usar outro psicodélico, a ibogaína (da planta africana Tabernanthe iboga), em pessoas com consumo abusivo de álcool. Um estudo menor, com apenas 12 voluntários, que nem começaram a ser recrutados.

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Para saber mais sobre a história e novos desenvolvimentos da ciência nessa área, inclusive no Brasil, procure meu livro "Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira".

Não deixe de ver também as reportagens da série "A Ressurreição da Jurema":

https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2022/07/reporter-conta-experiencia-de-inalar-dmt-psicodelico-em-teste-contra-depressao.shtml

https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2022/07/da-caatinga-ao-laboratorio-cientistas-investigam-efeito-antidepressivo-de-psicodelico.shtml

https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2022/07/cultos-com-alucinogeno-da-jurema-florescem-no-nordeste.shtml

Cabe lembrar que psicodélicos ainda são terapias experimentais e, certamente, não constituem panaceia para todos os transtornos psíquicos, nem devem ser objeto de automedicação. Fale com seu terapeuta ou médico antes de se aventurar na área.

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