Voltaire de Souza

Crônicas da vida louca

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Descrição de chapéu forças armadas

Conselhos de um pensador

Mesmo após falecimento, Olavo de Carvalho continua a ditar padrões de conduta

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Voltaire de Souza

Machismo. Virilidade. Dureza.

Os mais antigos se lembram do ditado.

Homem não chora.

Em seu gabinete, o capitão Morretes segurava as lágrimas.

–O que vai ser deste nosso Brasil?

Ele tentava acomodar no peito o impacto da notícia.

Morre o pensador Olavo de Carvalho.

–Uma luz. Um farol. Uma lanterna tática.

O governo decreta luto oficial.

Era triste o sorriso de Morretes.

–Tinha de ter uma reação mais forte.

Ele acendeu um cigarro.

–Á altura de tudo o que ele foi.

Morretes soltou a fumaça com fúrias de dragão.

–Que foi. E que é. E que será.

Tocou o celular.

–Morreeeetes… você não veeem?

O zeloso oficial tinha quase esquecido.

–A Layara. Cacete.

Um encontro romântico.

Primeiro, os drinques.

E depois, a passagem obrigatória pelo Motel Trincheira.

Morretes não era de ficar enrolando.

–Olha. Me espera no motel mesmo.

A suíte Alpina já estava reservada.

Eram dez da noite quando Morretes adentrou o cenário das operações.

–Que é que você tem, amor?

A voz de Morretes ficou novamente embargada.

–O professor Olavo… ele que era tão… tão…

Vieram os soluços. E o choro. Convulso. Quase histérico.

–Calma, amor. Fuma esse unzinho.

Drinques especiais acompanharam a substância proibida.

–Gostou da minha camisola de seda?

–Hãã…

–Ou quer que eu tire… hihi?

O olhar de Morretes parecia vidrado. Ausente. Fixo.

–Professor? É o senhor?

A visão era nítida e sorridente.

–Deixa de ser babaca, Morretes.

–Mas, professor Olavo.

–Vai negar fogo na frente desse pitéu?

Morretes se intimidava.

–Ou dá conta do recado ou eu mesmo resolvo essa parada.

A honra do másculo militar poucas vezes sofrera desafio tão impertinente.

Algum tempo depois, Layara expressou sua frustração.

–É, amor… hoje não foi, assim… aquela coisa toda…

O Audi de Morretes saiu do motel cantando os pneus.

–Ah é? Ah é?

Morretes desceu numa favela próxima.

O Parque Pagodes conheceu uma noite de terror.

Dez adolescentes varados com tiros de fuzil.

Morretes respira fundo.

–O professor Olavo pode falar o que quiser para mim.

Ele se sente aliviado.

–Mas alguém tem de pagar pela minha humilhação.

Lágrimas, por vezes, extravasam do coração de um macho.

Mas o chumbo se expele com mais facilidade.

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