Luto. Tristeza. Consternação.
Em Brasília, lágrimas nem sempre são contidas.
Morre Olavo de Carvalho.
O general Perácio suspirou.
–Injustiça. Barbaridade. Logo agora.
O assessor dele era o tenente Guarany.
–Pois é, general… essa coisa de Covid…
A mão de granito explodiu sobre a mesa de jacarandá.
–Covid? Quem está falando em Covid?
–Ué, general…
–Foi facada, Guarany.
–Mas general… ninguém falou nessa eventualidade.
Perácio remexeu a pastinha de couro verde-oliva.
–Documentos sigilosos, Guarany.
Ele começou a ler.
–Conspiração comunista… com ramificações…
–Quer dizer que, primeiro, tentaram matar o Presidente…
–Não conseguiram.
–Mas o Olavo…
–Um senhor já de certa idade… sem a mesma resistência física.
O coração de Guarany se indignava.
–Mas quem deu a facada? Cadê os culpados?
–Haha. Estamos investigando. Com ajuda dos americanos.
–Mas general… será que a gente pode confiar neles?
–A inteligência deles é de boa qualidade.
–Certo, mas…
–Vários suspeitos já estão presos.
–Verdade, general?
–Sim. Mas para obter a confissão…
–Como vai ser, general?
–A parte da tortura fica com a gente mesmo.
–Será que os americanos deixam, general?
Deu-se outro tapa sobre a mesa.
–É nosso direito. Direito humano nosso.
Guarany ainda estava com dúvida.
–E a ministra da área? O que será que ela acha?
Perácio pensou.
–É. Melhor consultar ela.
–Será que está no gabinete?
–Acho que está em cima da goiabeira.
–Bom, se Jesus aparecer para ela… vai dar uma boa orientação.
Novo tapa fez pular o laptop e a papelada.
–Que Jesus, rapaz. Ela está tendo visões do Professor Olavo.
–Ah, é?
Gritos se ouviam do jardim.
–Aleluia, Professor. Sois a verdade e o caminho. Sois a salvação.
Os olhos marejados de Guarany julgaram ver brilhos de prata no jardim.
–Capaz de ser o espírito dele mesmo… se não for a faca que ficou no peito.
–E uma coisa, Guarany.
–Sim, general.
–Se falar de Covid de novo quem vai para o pau-de-arara é você.
A realidade, por vezes, traz choques brutais.
Mas um bom par de coturnos, por vezes, funciona como isolante.
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