Chuva. Desmoronamento. Tragédia.
O país se mobiliza.
É preciso ajudar Petrópolis.
O capitão Morretes acendia um cigarro.
--Minha vocação é outra.
O oficial atuava no Rio de Janeiro.
--Por mim, se caísse uma bela chuva...
Ele consultava a meteorologia.
--E derrubasse metade dessas favelas aí...
Da janela, era possível ver muitas comunidades populares.
--Meu trabalho ia ter uma bela ajuda.
Morretes sonhava com rios de lama.
--E a bandidada boiando em cima.
Não é o que se espera do poder público.
Vieram ordens superiores.
--Morretes.
--Sim, general.
--Vê se vai para Petrópolis.
--Missão dada é missão cumprida, general.
--Ajuda na busca dos corpos.
--Positivo, general.
--Mas com critério. Com atenção.
--O senhor quer dizer...
--É isso que você entendeu, Morretes.
O capitão captou a mensagem.
Não demorou para preparar o helicóptero.
--Desce ali... não, lá... mais para a frente. É melhor.
Algumas ruínas compartilhavam espaço com a lama e uma equipe de resgate.
Morretes não tirou os óculos escuros.
--Muito bem. O que é que vocês estão fazendo aí?
--Estamos achando gente aí debaixo...
--Debaixo aonde?
O barranco era fundo.
Morretes foi enérgico.
--Podem parar com tudo. Que eu cuido disso.
--Mas, capitão...
Morretes tirou a pistola do coldre.
--Quem tiver juízo sai daqui agora mesmo.
O capitão e seus auxiliares desceram a encosta com cuidado.
--Mais alguma ossada?
--Umas cinco, capitão.
--Enfia no saco. E não se fala mais nisso.
--Engraçado, capitão. Não é cadáver recente.
--Claro que não, idiota.
--Mas então...
A explicação era simples.
Um antigo centro de tortura se localizava na região.
--Vai que descobrem os mortos da nossa guerra.
--Perfeitamente, capitão.
--Começa a escavar a terra...
--Aparece o que não pode, né, capitão.
O helicóptero voltou para o Rio com tranquilidade.
--Missão cumprida, general.
As chuvas destroem vidas.
Mas algumas memórias precisam de uma ajudazinha.
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