Fraudes. Lorotas. Conspirações.
Para muitos, o mundo das fake news ameaça a democracia.
Nestor dava um risinho.
–Democracia? Que democracia?
Ele estava convicto.
–As eleições são completamente roubadas.
Eram fortes suas críticas ao sistema da urna eletrônica.
–Acabaram com o Trump. E vão querer acabar com o Bolsonaro.
Espera aí.
O Trump perdeu sem urna eletrônica.
–Perdeu coisa nenhuma.
E o Bolsonaro ganhou com urna eletrônica.
–É que deu pau no sistema.
Nestor não queria correr mais riscos.
–Voto impresso. E se não tiver…
O olhar do jovem radical perdeu-se no horizonte.
–Pau. Pau no sistema.
O rapaz estava ligado num poderoso sistema de comunicações.
–Aqui só tem notícia verdadeira.
O computador de Nestor piscava sem parar.
–Covid. Comunismo. Quilombos. Tudo ligado.
A tarde caía com ameaças de chuva para os lados do Limão.
Chega a notícia bomba.
O ministro Alexandre de Moraes suspende as atividades do Telegram.
–É o primeiro passo para a ditadura desses comunas.
Raios. Trovões. Relâmpagos.
O apagão atingiu em cheio a placa do laptop.
–Querem me deixar sem comunicação. É isso?
Um zumbido misterioso surgiu no fone de ouvido.
–Nestooor… Nestooor… não se intimide.
–Opa. Opa. Mensagem poderosa.
–O Telegram é só um detaaaalheee…
A voz era rascante. Áspera. Catarral.
–A vitóóória… virá do papel impreeessooo…
Uma imagem se materializou na tela apagada do aparelho.
–Professor Olavo? É o senhor?
–Dizem que eu morri… mas é fake news também.
Nestor sentiu uma onda de patriotismo reacender-se em sua alma perturbada.
–Falou, professor. Senti firmeza.
Os meios de comunicação constituem poderoso instrumental político.
Mas não é preciso internet para a cabeça entrar em circuito.
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