Voltaire de Souza

Crônicas da vida louca

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Voltaire de Souza
Descrição de chapéu inflação

Tira a máscara, por gentileza

Com mais furtos nos supermercados, a luta é para saber quem vai pagar o pato

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Choque. Tristeza. Apreensão.

A notícia chega aos jornais.

Em São Paulo, a carne é guardada a cadeado.

Quem quiser comprar no supermercado, não pode ir logo pegando.

Tem de solicitar junto ao caixa.

O gerente Silveira dava a explicação.

–O pessoal rouba muito aqui na área.

Ele suspira.

–Já vi gente escondendo patinho na cueca.

Era triste o seu sentido de ironia.

–Aí, quem paga o pato sou eu.

Picanhas no sutiã.

–Pensei que era silicone.

A conclusão era uma só.

–O brasileiro é muito desonesto.

Silveira era bolsonarista convicto.

–A gente quis tirar os ladrões do governo.

Ele balança a cabeça.

–O buraco é mais embaixo.

Na cueca, talvez?

–É o povo. Não se contenta com pouco.

Qual seria a razão de tão estranho comportamento.

–A classe pobre ficou mal acostumada.

Há mais de trinta anos Silveira cuidava das contas no Supermercado Sideral.

–Antes, compravam macarrão e saíam felizes da vida.

Ele acende um cigarro.

–Hoje, é carne para churrasco. E ainda reclamam.

O sistema de som fez um chamado urgente.

–Sr. Silveira, por favor, comparecer ao caixa.

–Está vendo? É mais uma ocorrência.

A aposentada Nadir estava de braços levantados.

–O que é que aconteceu?

O segurança Carlos terminava a revista.

–Não achei nada na roupa dela, Silveira.

–E então?

–Conheço bem essa aí. Esperta pra caramba.

Silveira sorriu com inteligência.

–Desculpe, minha senhora. Mas a máscara cirúrgica deixou de ser obrigatória.

Nadir fez que não com a cabeça.

–Mfff… mfff…

–Arranca a máscara dela, Carlos.

Oito pilhas tamanho AA saltaram da boca da anciã.

–Logo desconfiei. Pelo tipo de máscara que ela estava usando.

Modelo mais sofisticado. Tipo bico de pato.

–Tinha de usar a azulzinha.

Silveira respira fundo.

–Mas felizmente acabou essa palhaçada.

A calma retorna ao Supermercado Sideral.

–Tudo sob controle.

Só falta controlar a inflação.

Silveira discorda.

–Não é problema.

Ele apaga o cigarro.

–A única coisa chata da inflação é que dá pretexto para tanto ladrãozinho.

O empresariado, há muito tempo, já deu o seu recado.

Não quer pagar o pato.

Mas o boi, o frango e a salsicha também cobram seu preço.

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