Medo. Intolerância. Desrespeito.
As religiões afrobrasileiras nem sempre são bem compreendidas.
Era tensa a reunião na sede da emissora evangélica.
–E aí, a gente noticia?
–Carnaval? Nem pensar.
–Mas o nosso jornalismo aspira a padrões de qualidade…
–Só que essa vitória da Grande Rio no desfile…
–O que é que tem?
–Exu. Sabe o que é esse negócio de Exu?
–Hã.
–É o capeta, pô. Satanás. Belzebu.
–E se a gente fizer um exorcismo depois da notícia?
–Espera. Deixa eu ligar com o pessoal lá do Rio de Janeiro.
As bases da igreja era fortes na região.
–O bispo pode atender?
–Está conversando com a milícia de São Gonçalo.
–É urgente, pô. Pergunta se a gente pode dar o resultado das escolas de samba.
Fez-se silêncio do outro lado da linha.
–Melhor ver com os anunciantes…
–O pessoal do varejo não vai ser contra.
–Espera. Espera. Estão atendendo aqui.
Uma voz poderosa se fez ouvir pelo celular.
–Baticum, baticum… Laroyê Exu! Fala, Majetê.
–Hein? Hein?
–Chegou a minha vez… tu não toca apito no meu bloco.
O celular esquentava intensamente.
–Será a bateria de lítio?
Calor. Chamas. Fumaça.
Tons de vermelho pareciam cercar a sala de reuniões.
O diretor de programação entrou em transe.
–Viva Exu. Seja louvado. Aleluia.
A equipe médica agiu com presteza.
–Pode ser alucinação.
–Ou será que pegou fogo no cenário da novela bíblica?
As investigações não tem data marcada para ocorrer.
–Acho perigoso mexer nessas coisas.
É como quando aparece roubalheira no Ministério da Educação.
A opção é deixar quieto.
E fazer como no Carnaval.
Deixa passar e toca em frente.
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