Samba. Cerveja. Diversão.
É o Carnaval fora de hora.
Dona Isoldes estava preocupada.
–O Carlos. Está sem beber desde janeiro.
Tinha sido promessa de ano novo.
–Mas agora…
Apertava-se o coração da evangélica.
O marido tinha saído depois do almoço.
–Resolver umas coisas aqui perto.
–Que coisas, Carlos?
–Umas coisas que eu estou devendo.
O pressentimento de Isoldes era forte.
–A dívida é com o copo.
O jeito era orar. E esperar.
A TV não transmitia só desfiles.
–Pelo menos, tem o programa do Bispo Avarildo.
Eram duas da manhã quando ela ouviu o barulho no portão.
Carlos estava só de cueca.
Muitas manchas de batom.
No caminho para a cama, foi logo avisando.
–E amanhã tem mais.
Foram dias de tormento para a evangélica.
Os choques se sucediam.
–Com homem agora, Carlos?
–É bom também.
A equipe de transportes chegou para levar carro, geladeira e televisor.
–Vendi, Isoldes. A cocaína subiu de preço.
Aí o tempo fechou de vez.
–Vou para a casa da minha madrinha. Me encontre lá quando quiser.
A visita de Carlos chegou no tempo certo.
Respeitosa. Formal. Circunspecta.
O rapaz usava o terno azul de ir ao culto.
–Então, Carlos. O que você tem a dizer?
Ele tirou da pastinha um documento oficial.
–República Federativa do Brasil.
–O que é isso?
–Indulto. Concedido solenemente pelo presidente Bolsonaro.
–Que nem fizeram com o deputado Daniel Silveira?
–Sim. Tudo o que eu fiz está perdoado.
–Deixa eu ver.
O papel estava coberto de manchas de cerveja.
–Essa assinatura aqui, de quem é?
–Do Bozo.
–E embaixo?
–Carimbo do Rei Momo.
–Mas você não disse que era do presidente Bolsonaro?
Carlos perdeu a paciência.
–E que diferença faz, caceta?
Isoldes ficou de pensar.
Desatinos se cometem.
Mas sempre há um palhaço para assinar embaixo.
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