Voltaire de Souza

Crônicas da vida louca

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Descrição de chapéu Rússia

Sem picanha no momento

Boas relações com o governo Putin podem estimular a criatividade empresarial

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Fraude. Engano. Lorota.

Silvano estava revoltado.

–Como assim? Não tinha picanha?

O jovem empresário não se conformava.

O hambúrguer chamava McPicanha.

–E não tinha picanha?

É mais o sabor. A ideia. O conceito da coisa.

–Palhaçada.

O duvidoso alimento foi retirado do mercado.

Silvano sorria.

–Só serve agora para mandar para a Rússia.

Na terra de Putin, a conhecida rede de fast food já não funciona mais.

Inventaram substituições.

MoscDonald’s? Méquitralha? MacDonbas?

–Podiam comercializar picanha brasileira.

Silvano tinha altos projetos empresariais.

–Eu entrava lá como representante comercial…

Uma ajudinha do governo não é impossível.

–Vendia até cachorro-quente prensado.

As especialidades brasileiras merecem ser mais conhecidas.

–O pão de queijo é um convite ao diálogo.

Uma frente fria estava chegando pelos lados do Morumbi.

–Vai ter mortadela na terra do caviar.

Ele se sentou no computador.

–Hora de quebrar a cabeça…

As contas de sua pequena loja de rações para pet eram preocupantes.

–Eu também vendo ração sabor picanha. Mas é diferente, pô.

Dívidas. Cobranças. Parcelamentos.

–Pior que bombardeio.

O baseadinho noturno serviria para relaxar.

Com a virada do tempo, chegaram os relâmpagos. Os trovões.

O laptop piscou várias vezes.

–Se não for ataque de hackers…

O anúncio de pão de queijo começou a oscilar.

–Parecem dois olhos… uma careca…

O quitute se transformara na cabeça do presidente Putin.

–Bien vuíndo à Uróssia, Silwányu.

Um conhecido deputado estadual também dava as boas vindas.

–Ucraniana, russa… são todas gatinhas, cara. Fáceis. Porque pobres.

Bumbuns brancos se duplicavam como pães tipo brioche.

Silvano interpelou o deputado.

–Mas você está na Rússia agora, Arthur?

–É o McPiranha, cara… Promoção do palhacinho feliz.

A imagem se dissipou na telinha.

Silvano saiu do transe com uma fome de urso.

Pelo delivery, ele fez a encomenda.

–Três milk-shakes de ovomaltine. E um x-salada normal.

A mente humana é como a propaganda de fast-food.

Sai fácil da realidade.

Mas, se o palhaço tem sapato grande, é para não tirar nunca os pés do chão.

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