Aperto. Incômodo. Desconforto.
Mulheres trans e travestis vivem, em seu cotidiano, um drama oculto.
A calcinha é pequena demais.
O uso de esparadrapos, colas e bandagens pode causar problemas sérios.
Chega a boa notícia.
Na Zona Leste, começa a ser fabricada a calcinha trans.
Com amplo espaço para as genitálias mais exigentes.
É a verdadeira classe executiva da lingerie.
De que adianta um motor de Ferrari numa carroceria de Fusca?
O pastor Avarildo balançava a cabeça.
–É a pouca-vergonha nacional.
A namorada dele se chamava Jacqueleine.
–Pouca-vergonha, amor, é não usar calcinha nenhuma.
Avarildo bebericava seu uísque 20 anos.
–Bom, desse ponto de vista…
Jacqueleine era uma consumidora do tipo compulsivo-impulsivo.
–Vou encomendar umas dez. De oncinha.
–Mas, Jacqueleine, você não é travesti…
–Hihi, Avarildo, claro que não…
Rugas surgiram na testa do pastor evangélico.
–Você está querendo que eu use?
–Não, Avarildo. Que coisa. Como você é desconfiado…
O mistério prosseguiu.
Um motoqueiro expresso trouxe rapidamente a encomenda para a mansão do casal.
–Vem, Avarildo. Eu vou experimentar.
–Mas e o que eu faço? Fico olhando.
Jacqueleine sorriu com amor e paciência.
–Você tira os dólares do cofre, Avarildo…
A calcinha folgada ajudaria no transporte de valores clandestinos.
–Haha, sai do cofre…
–E entra na minha gavetinha.
–Eu saio do foco do noticiário…
–E eu continuo no meu trabalho de bastidores.
–O bom é que na minha cueca vai ficar sobrando espaço.
–Espaço para quê, Avarildo?
–Para a pistola, ué.
É como se diz em qualquer religião cristã.
Na base da família, está o casal.
E os valores mais importantes se assentam aí.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.