Voto. Urna. Eleição.
Os militares brasileiros se preocupam com o assunto.
Em Brasília, o general Perácio tomava pé das coisas.
–Muito bem. Vamos começar do começo.
O assessor Guarany tentava ajudar.
–O começo… seria o quê exatamente?
–O começo de tudo é o descobrimento do Brasil.
–Ah, claro. O Pedro Álvares Cabral.
–Então. Alguém elegeu ele?
–Puxa, general… nunca pensei nisso.
–Claro. E quem é que ia eleger? Os índios?
–Aí não, né general.
–Esse troço de máquina de votar… urna eletrônica…
–Muito errado, né general.
–Olha uma coisa, Guarany.
Perácio mostrou as medalhas na farda verde-oliva.
–Alguém votou em mim?
–Não.
–E vai me dizer que eu não tenho autoridade?
–Não, general.
O tapa estalou uma segunda vez.
–Assunto encerrado.
Guarany tossiu de leve.
–Mas… o relatório aqui… sobre urna eletrônica…
–Já viu índio usar computador?
–Não, general.
Português fazendo pão com impressora 3-D?
–Não, general.
–E os negros então?
–O que é que tem?
–Só querem saber de feriado no dia da eleição.
–Bom, general, sem índio, sem negro e sem português…
–Sobra a gente, Guarany.
–E a Constituição, né, general.
–Está aqui no meu bolso. Junto com a Taurus.
Perácio tirou para mostrar.
Veio a surpresa.
Livrinhos de bolso fartamente ilustrados.
"Iracy. Uma índia do barulho".
"Tirando a tanga".
"Entrando no matagal".
"A mandioca do português".
–Puxa, general…
–Nossas raízes, Guarany.
A democracia, hoje, tem o voto eletrônico.
Um toque de dedos, e está tudo resolvido.
Mas há quem não queira tirar a mão da pistola.
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