Frio. Vento. Garoa.
O inverno vai chegando à cidade.
Cresce o número de moradores de rua.
Muita gente concorda.
É preciso fazer alguma coisa.
O playboy Carvalhinho combinava com os amigos.
–Quer saber? Tudo isso é só vagabundagem.
Algumas gotas de cerveja se derramavam sobre a camiseta da Seleção.
–Esses mendigos não contribuem para o Brasil.
–Falou, Carvalhinho. Você já está falando como candidato.
O rapaz sorriu.
–É, quem sabe… mas a política está completamente podre.
No bar, ele levantava a voz.
–A única solução é um golpe militar.
–Aí a gente prendia essa mendigada toda…
Carvalhinho balançou a cabeça.
–E gastar dinheiro público com esses inúteis?
Ele cuspiu um caroço de azeitona.
–Minha solução é outra.
–Vai dizer que…
–Isso mesmo. A gente queima uns quatro ou cinco…
–E dá o exemplo.
–Bem mais eficiente.
–E divertido.
O Camaro de Carvalhinho avançou pelas ruas do centrão.
–Dois galões de gasolina.
–E muito amor pelo Brasil.
Uma concentração de moradores de rua se localizava no Pátio do Colégio.
–Alguém tem isqueiro aí?
Das sombras, surgiu o vulto de um sacerdote.
Padre Pellozzi realizava seu trabalho social na madrugada.
–Ma che pagliassata é questa?
Carvalhinho se abespinhou.
–Padre comunista comigo é na porrada.
Pelozzi sorriu com bondade e compreensão.
–Ma no… io non sono comunista.
O gesto de Pellozi foi pedagógico. Didático. Apostólico.
–Pensa nel prezzo della gazzolina, mio figlio.
Uma onda de humildade varreu a mente de Carvalhinho.
–Está certo, padre. A economia em primeiro lugar.
O coração, muitas vezes, emudece.
Mas o bolso acaba dando o seu recado.
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