Golpe. Tanque. Tapetão.
Clima tenso em Brasília.
Alguns generais não engolem a urna eletrônica.
A jornalista Giuliana Bugiardi foi investigar.
–Estamos aqui no gabinete do general Perácio…
–Rrrunf. Rrrunf.
–E queremos saber se esse rumores…
–Rumores sobre o quê, minha filha?
–Golpe militar… é verdade, general?
A mão de granito fez estrondo sobre a mesa de jacarandá.
–As Forças Armadas sempre apoiaram a democracia.
–Certo, general… mas…
–Fizemos grandes sacrifícios pelo sistema democrático.
–Verdade?
–Nossa revolução em 1964.
–No que consistiu exatamente, general?
–Fechamos o Congresso. Censuramos a imprensa. Sabe por quê?
–Não, general.
–Para defender a democracia.
–É mesmo, general?
–Prendemos um monte de gente. Torturamos. Matamos.
–Isso tudo…
–Para defender a democracia.
O general Perácio olhou fundo nos olhos da repórter.
–Choque elétrico. Enforcamento. Pau de arara.
–Que mais, general?
–Chutei barriga de grávida.
–Puxa, que incrível…
-- Em defesa da democracia.
--Claro.
–Então não digam que os militares são contra a democracia…
O tapa explodiu pela segunda vez no tampo da mesa.
–Porque não são.
A voz do general adquiria tons agudos.
–Não tem ninguém mais democrático do que nós.
Perácio deu o terceiro murro.
–Ops.
Os punhos de granito erraram o alvo.
Destruindo o celular de Giuliana e o laptop do gabinete.
--General... melhor o senhor se acalmar...
–Sem problema. Computador, celular, urna eletrônica…
Ele fez uma pausa.
–Isso tudo não vale nada.
Perácio mostrou o quepe e a pistola.
–O que vale é a democracia.
A tarde caiu em silêncio nos horizontes de Brasília.
Celulares e laptops se trocam com facilidade.
Generais, nem sempre.
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