Filhos. Família. Sucessão.
Dudu estava contente.
Ia nascer seu primeiro herdeiro.
–Vai se chamar Júnior.
Neste mundo tão superpovoado, muitos querem seus bebês.
–Terra para ele não vai faltar.
De fato.
Dudu era proprietário de grandes glebas na Amazônia e no Centro-Oeste.
–Aquilo lá é pasto que não acaba mais.
O jatinho particular levara Dudu e sua esposa a uma das mais luxuosas maternidades paulistanas.
–Incrível, Josliane. Você vai ser mãe em pleno dia das mães.
--Legal, Dudu… Mas… aiii…
Por via das dúvidas, uma equipe médica acompanhava o casal dentro do jatinho.
–Ela está praticamente entrando em trabalho de parto.
O dr. Marco Aurélio fez um gesto.
–Vem, seu Dudu. Pode se aproximar.
A barriga esférica de Josliane parecia palpitar de vida e esperança.
–Engraçado… Está meio azulada. E está girando…
Nuvens brancas atravessavam a região do umbigo.
Ele se virou para o médico.
–É normal, doutor?
O dr. Marco Aurélio parecia ter desaparecido no ar.
A barriga de Josliane emitia uma voz doce. Etérea. Sobrenatural.
–Duduuu… Duduuuu…
–É você, Júnior?
–Sou tua mãe, Duduuu.
–Mas… a senhora não está em Miami?
–A tua outra mãe, Dudu…
–Outra? Como assim?
–A mãe Terra, meu filho…
Dudu olhou de novo para a barriga da mulher.
Um globo terrestre. Com mares azuis e continentes desérticos.
Veio o grito umbilical.
–Me salva, seu cretino.
O avião corcoveava em meio a uma tempestade imprevista.
Dudu bateu com a cabeça na fuselagem.
O dr. Marco Aurélio administrava analgésicos para todos.
O bebê pegou em cheio a primeira lufada de poluentes do céu paulista.
–Tudo normal com ele, doutor?
–Só os pezinhos. Olha só.
Invertidos. Os calcanhares na frente.
–O Caipora? Protetor das florestas?
–Calma, seu Dudu.
O dr. Marco Aurélio dobrou a dose do sedativo.
–Logo, logo, ele volta ao normal. E retoma as atividades produtivas.
O Dia das Mães deixa todo mundo emocionado.
Mas é a Natureza, hoje em dia, quem mais precisa de medicação.
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