Voltaire de Souza

Crônicas da vida louca

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Descrição de chapéu forças armadas

Democracia à brasileira

Mesmo contra a urna eletrônica, mentes militares aceitam avanços tecnológicos

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Chutes. Pesquisas. Previsões.

É a corrida presidencial.

Cresce a preocupação em Brasília.

O general Perácio analisava as últimas planilhas.

–Hum. O nove dedos está na frente.

O assessor Guarany tentava ajudar.

–Esses institutos de pesquisa… não inspiram confiança.

–É. Muita mentira. Muitos interesses aí na parada.

–Fake news, general.

–Dizem até que o Lula é mais honesto do que a gente.

–Aí é brincadeira, né, general.

A mão de granito fez estrondo sobre a mesa de jacarandá.

–Brincadeira coisa nenhuma.

Perácio fez cara séria.

–Precisamos investigar quem está espalhando esse tipo de coisa.

–Positivo, general.

–Agora, não vamos nos esquecer do que realmente importa.

–O que seria, general?

–As urnas eletrônicas, pô.

–Ah.

–Enquanto usarem esse tipo de coisa, não temos democracia de verdade.

–Claro, general… essas tecnologias aí…

Perácio tomou um gole de chá.

–Agora, não é que eu seja contra as tecnologias não.

–Computador ajuda, né, general.

–Não digo nem isso, Guarany.

A mente de Perácio voltava no passado.

–Modernizei muito o nosso Exército.

–É mesmo, general?

–No começo, a gente só usava pau-de-arara. E bofetão.

–Muito primitivo, né, general.

–Eu que introduzi o uso do choque elétrico.

–Um grande avanço, general.

–E ninguém aumentou meu salário por isso.

–Injustiça, general.

–Tivemos excelentes resultados.

–Sempre lutando pela democracia, né, general.

–E agora querem destruir a nossa obra.

–Bom era quando tinha urna e papelzinho, né, general.

O segundo tapa fez estrondo no gabinete acarpetado.

–Quer saber? Uma baita besteira também.

Perácio já estava gritando.

–Nunca precisamos de eleição para garantir a democracia.

–Nem papel, nem urna eletrônica…

–Claro que não.

Foi nostálgico o suspiro de Perácio.

–A maquininha de choque dava conta do recado.

A noite foi chegando em silêncio sobre o Planalto Central.

O progresso tecnológico merece respeito.

Mas as tradições nacionais, por vezes, têm raízes mais fundas.

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