Voltaire de Souza

Crônicas da vida louca

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Assino ou não assino?

Para famosa socialite, antigos entusiasmos políticos são difíceis de esquecer

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Advogados. Banqueiros. Empresários.

As elites brasileiras se mobilizam.

É tempo de lutar pela democracia.

A famosa socialite Bibi Abdalla estava em dúvida.

--Será que assino esse manifesto?

O documento vai ser lançado no Largo São Francisco.

Vários amigos de Bibi apoiavam o movimento.

--Até o J. P. do Prado... imagine.

Ela abriu as cortinas de tafetá da sua saleta íntima.

--Não sei... acho meio traição. Não acha, Tiffany?

--Wák, wák, wák.

A simpática cadelinha poodle se agitava.

--Afinal, a gente apoiou o Bolsonaro o tempo todo.

A manhã cintilava em tons dourados sobre as ruas dos Jardins.

--Se deixassem o presidente governar...

O whatsapp não parava de mandar mensagens.

--Já assinamos, Bibi. E você?

Ela se surpreendia com as adesões.

--A Maria do Carmo? O Miguel? O tio Jorginho?

Democracia exige consulta popular.

Bibi teclava rapidamente no iphone.

--Janaína. Você vai assinar? Kim? É você?

--Wák, wák, wák.

--Quieta, Tiffany. Não consigo ouvir o que eles estão dizendo.

A cachorrinha aprontava em cima da mesa de trabalho de Bibi.

--Gnhok, gnhok, gnhok.

--O que você está fazendo, Tiffany?

O animalzinho destruía o conjunto de canetas Montblanc da socialite.

--Ai meu Deus. Não quer que eu assine, né?

--Ghnhrrk. Wák, wák.

A dúvida foi solucionada num momento de inspiração.

--Quer saber? Vamos para Miami, Tiffany.

--Wék, Weyah.

--Assim não preciso pensar mais no assunto.

Na primeira classe da Qatar Airlines, Bibi e Tiffany relaxam com seus respectivos drinques.

--Soninho gostoso, né, Tiffany?

Entre as nuvens, Bibi imaginou uma voz. Um rosto. Uma visão.

--Fica nos Estados Unidos, Bibi... fica aqui comigo...

--Professor Olavo?

--É daqui que a gente vai dar o troco...

A visão se dissipou.

Bibi aciona o cartão de crédito nas lojas de Duty Free.

--Detesto polêmica. Odeio polarização. Sinceramente.

Por vezes, assinar um manifesto significa apagar antigos entusiasmos da memória.

Mas a senha do cartão ninguém esquece impunemente.

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