Ataques. Memes. Lorotas.
Vai começando a campanha eleitoral.
Com a tecnologia moderna, é difícil saber o que é verdade e o que é mentira.
O deepfake já é uma realidade.
Dona Adelina consultava o celular.
–Ha. Olha só.
O marido se chamava Eristeu.
–O que é agora?
–Viu essa do Haddad?
–O que é que tem?
–Participando do concurso Mister Bumbum.
O filmete mostrava o petista desfilando de sunguinha.
–Esse nunca me enganou.
–Verdade, Eristeu?
–Não foi ele que encomendou o Kit Gay?
A luta contra o preconceito nas escolas se transformou em instruções para o sexo anal.
–E a mamadeira de pênis?
Dona Adelina começou a ficar incomodada.
–Para de falar nessas coisas, Eristeu.
–Mas é verdade. Purinha.
Eristeu abriu um arquivo no computador.
–Tudo aqui, Adelina.
–Nossa… você guardou?
Eristeu fez cara séria.
–Nunca se sabe. Esses comunistas podem querer apagar tudo.
Adelina se aproximou da tela.
–Posso ver?
Eristeu fechou abruptamente a aba do laptop.
–Não. De jeito nenhum.
O severo aposentado explicou.
–Acho contra-indicado para pessoas de família.
Aproximava-se a hora da sesta naquele pequeno sobrado do Jardim Miriam.
Os roncos de Eristeu funcionaram como um alarme no cérebro de Adelina.
As mãos de fada acessaram com facilidade os arquivos do marido.
–Top Secret 2017?
Fotos e vídeos estavam ao alcance de um clique.
Numa festa com temática militar, Eristeu se confraternizava com garotos de programa.
Algemas. Coturnos. Cassetetes.
–Casamento 2018?
Eristeu estava de véu e grinalda.
Nas mãos, o buquê era feito com artefatos de silicone.
O noivo era bem mais jovem.
–O Cassiano? Justo ele?
O jovem gerente de vendas era candidato pela bancada da bala.
Adelina já não mais reprimiu os gritos de protesto.
–Sem-vergonha. Degenerado.
Eristeu ainda tenta explicar.
–É fake news, Adelina. Manipulação. Alguém entrou no meu computador.
Adelina não quis saber.
Já se mudou para a casa da irmã em Conceiçãozinha.
Campanhas eleitorais trazem muitas surpresas.
Mas o casamento, por vezes, é um meme que se sustenta tempo demais.
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