Voltaire de Souza

Crônicas da vida louca

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Voltaire de Souza

Fecha essa porcaria

Famoso mestre-cuca francês não se conforma com o sucesso do porco e da mortadela

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Temperos. Texturas. Sabores.

O país está em crise.

Mas o mundo da gastronomia esbanja criatividade.

Sai a lista dos 50 melhores restaurantes do mundo.

Para a torcida verde-amarela, o momento é de comemorar.

A Casa do Porco obtém uma excelente colocação.

No comando de seu pequeno bistrô La Chochotte, o francês Pierre se sentia insultado.

– Case du Pórrque? Que brrincadérre é ésse?

Ele só levava a sério os guias gastronômicos franceses.

– O Michelin. O la Facade. O Peguetroche.

A curiosidade, entretanto, era forte demais.

O estabelecimento rival se localizava na Vila Buarque.

– É no mêie da Bôque do Lixe.

Pierre se lembrava de seus primeiros anos na capital paulista.

– Fiz muite visite nos putérres da regióm.

Como brasas de um churrasco, memórias sensuais se acendiam lentamente.

– A Nayarre. A Solónge. A Corraline.

Perto da longa fila do restaurante, um morador de rua cumprimentou Pierre com simpatia.

– Seu Pierre? Sou o Férgusson. Admiro muito o seu trabalho.

– Um moménte. Um momentinhe.

Pierre acabava de receber um gigantesco sanduíche de pernil no balcão da calçada.

Veio a primeira mordida.

– Nojente. Porcarrie. Non serrve nem parra mendigue.

O apreciado quitute foi parar na sarjeta.

Fergusson foi educado.

– Com licença. Se o senhor não quer...

Pierre já se dirigia a outro tipo de estabelecimento.

A Boate Las Bokitas servia grátis o segundo drinque.

Mais bela e sensual do que nunca, uma balzaquiana mostrava suas meias tipo arrastão.

– Solónge? É você?

Ela olhou com desprezo o seu antigo amor.

– Pierre. Você era tão magrinho quando chegou no Brasil...

– He, he... é o présse do sucésse.

Os longos dedos da deusa apontaram para a porta da saída.

– Teu lugar é lá na frente. Chama Casa do Porco, já ouviu falar?

A indignação tingiu de vermelho as fartas bochechas do francês.

– Quérrem sabérre? Eu desiste. Lárrgo túúde.

Ele pensa em voltar para a França.

– Até as prrostitutes estón ficónd chéie de exijance.

Para ele, isso só tem uma explicação.

– É comunisme. É a vitórre definitive da morrtadele.

Ele só tem uma esperança.

– ​Um gôlpe do Bolsonárre. Aí ele feche esse puterre e o restaurronte junte.

O investidor estrangeiro precisa ser bem tratado.

Mas a política é como a gastronomia.

Quando contrariados, alguns chefs se descontrolam e põem fogo na mistura.

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