Ignorância. Preconceito. Homofobia.
É a campanha eleitoral.
Será que falar contra os gays dá voto?
O presidente Bolsonaro, aparentemente, acredita que sim.
Foi no Maranhão.
Aos evangélicos, Bolsonaro deu o recado.
Quer que o Joãozinho seja Joãozinho a vida inteira.
Dona Idalina ouvia essas palavras com dor no coração.
–Saudades de quando meu filho era pequeno…
Ela tinha quarenta anos quando nasceu seu único filho.
–Foi em 1987…
Era grande a sua admiração pelo então presidente João Figueiredo.
–Tão lindinho… tão comportado…
Os problemas começaram a surgir quando o menino se aproximou da adolescência.
O pai quis colocar Joãozinho no colégio militar.
–Eu discutia tanto com o Dorval… que Deus o tenha.
O fato é que Joãozinho não levava jeito.
–Comprou escondido umas botinhas que nem a das Paquitas.
Para evitar a punição paterna, Joãozinho fugiu de casa.
–E nunca mais voltou.
O velho sr. Dorval morreu de desgosto em 2002.
–Eu tentei avisar do falecimento para o Joãozinho… mas como?
Fé. Bíblia. Orações.
–Um dia ele volta.
Quem disse que Deus não atende as preces de uma mãe desesperada?
A manhã tingia de rosa os céus de São Gonçalo.
Dona Idalina viu a porta do seu quarto abrir-se suavemente.
–Joãozinho?
Um homem alto e moreno apareceu diante da evangélica.
A meia arrastão e a regatinha de couro preto exibiam uma invejável musculatura.
–Mamãe. Voltei.
A corrente de ouro maciço mostrava um alto índice de sucesso material.
–Ganhei dinheiro fazendo filme pornô gay na Califórnia.
Lágrimas vieram aos olhos de Idalina.
–Meu Joãozinho…
–Lá me conhecem por Joãozão.
Em inglês, fica mais chique.
–The Big John.
Famoso no mundo do erotismo gay pelo tamanho incansável de sua anatomia tropical.
E pelo bumbum bem brasileiro.
O presidente Bolsonaro, infelizmente, errou o alvo em suas vigorosas colocações.
Joãozinho não fica Joãozinho para sempre.
Inútil negar o progresso.
Tudo, quando chega a hora, cresce, se desenvolve e dá conta do recado.
E repete o lema de todo brasileiro.
Filho teu não foge à luta.
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