Cascudo. Tapa. Afogamento.
Agora é oficial.
O presidente Bolsonaro admite.
Teve coisa errada na ditadura.
As declarações são polêmicas.
Em seu gabinete, o general Perácio tentava reprimir a irritação.
--Cascudo? Tapa?
O assessor Guarany acompanhava as reações do comandante.
--Fica chato dizer isso, né, general.
--Chato? Isso é fonte de vergonha para as Forças Armadas, Guarany.
--Mas, puxa, general, se o nosso presidente achou bom dizer isso...
--E como fica a nossa imagem? Hein? Hein?
--A gente sempre se preocupou tanto com isso, né, general.
O rosto de Perácio mostrou-se sombrio. Fechado. Patibular.
Um gigantesco estrondo fez tremer a mesa de jacarandá.
--Tapa. Tapa é isso aqui.
--Com certeza, general.
--Agora, dizer que a gente deu tapa e cascudo durante a Revolução...
A voz de Perácio tornou-se aguda.
--É pouco. É nada. É brincadeira.
--Como assim, general?
--Fizemos muito mais que isso, caceta.
--Claro, general.
--Tortura. Sequestro. Assassinato. Pra valer.
--Perfeitamente, general.
Perácio respirou fundo.
--Tapa e cascudo... ora essa.
A tarde ia desmaiando sobre as vastidões do Planalto Central.
--Vão pensar que a gente era maricas.
--Isso nunca, general.
--Que a gente era boiola. Até pior.
--Hã. Pior?
--Vão pensar que as nossas Forças Armadas eram relapsas na missão.
--Isso não, né general.
--Me passa o telefone, Guarany.
As mãos do assessor tremeram.
--O senhor vai ligar para o chefe? Reclamar com ele?
Perácio ficou pensando.
--É. Melhor não. Melhor sepultar o assunto.
--Ou afogar, né, general. No fundo do rio.
--Isso, Guarany.
Esclarecer os fatos é sempre importante.
Mas a disciplina, por vezes, fala mais alto.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.