Trabalho. Sacrifício. Humilhação.
Em muitos casos, esta é a vida do estagiário brasileiro.
Apareceu na televisão.
Uma jovem mostrou pouco entusiasmo no primeiro dia de trabalho.
--Minha família está mais feliz do que eu.
O sr. Viviano achava natural.
--Claro. Eu também ficaria.
O filho dele se chamava Igor.
--Fica o dia trancado no quarto.
A mãe do adolescente concordava.
--Parece bicho.
--Só videogame.
--E a gente pagando tudo aqui. Feito um hotel de luxo.
Uma voz irritada emergiu das profundezas do corredor.
--Hotel de luxo? Até parece.
Igor apareceu com uma lista de reclamações.
--Não trocam a roupa de cama faz uma semana.
--Mas, Igor... você não deixa ninguém entrar no quarto.
--Tem mais. Cadê meu cereal?
O sr. Viviano perdeu a paciência.
--Cereal? Olha aqui o seu cereal.
Um bloco de contas a pagar foi arremessado aos pés do adolescente.
Igor reagiu com altivez.
--Hum. Muito bem.
O rapaz pegou o bloco e entrou no quarto novamente.
Um odor característico emergiu pelas frestas do aposento.
--Tá vendo, Viviano?
--O quê?
--Usou a papelada para fazer um baseado.
--Ah...
--Maconha pura, Viviano.
Depois de uma hora, Igor reapareceu.
Olhos vermelhos. Espírito sereno. Um sorriso meio idiota no rosto.
--Pai. Mãe. Tudo resolvido.
--Como assim, Igor?
--As contas. Aquelas dívidas, ó... babau.
--Mas como?
Uma complexa operação internacional envolvia CPF falso, e-mails pedindo auxílio e intermediação com um banco nigeriano.
--Filho, você é um gênio.
--E sabem da boa notícia?
--Qual?
--Consegui estágio. Na Faria Lima. Consultoria sênior.
--Deus seja louvado.
A classe média, muitas vezes, perde totalmente suas esperanças.
Mas, quando a vontade é forte, o caminho da prosperidade está ao alcance de todos.
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