Ignorância. Absurdo. Preconceito.
Alguns bolsonaristas reprovam os cultos afro-brasileiros.
Lula aparece numa sessão de umbanda.
A reação vem no instagram.
--Religião das trevas.
--Entregou a alma ao diabo.
--E com tudo isso não me deixam falar de Deus...!
No terreiro de Pai Futaba, o clima era de preocupação.
--E se o Bolsonaro for reeleito?
--Vai perseguir a gente pra valer.
--A gente precisa tomar uma atitude.
--Vamos apoiar o Lula?
O famoso pai-de-santo japonês ouvia em silêncio.
--O que o senhor acha, Pai Futaba?
--Borossonaru... uma coisa. Urura... é ôtora.
--Mas quem a gente apóia, Pai Futaba?
--Urerigió... uma coisa... Uereiçó... é ôtora.
--Eles estão atacando a gente, Pai Futaba.
O sábio líder espiritual acendeu um gigantesco charuto.
--Fazer ureunió de famíria.
Ele chamou os três filhos.
--Kuritiko. Haparu. Tidaru.
As opiniões da prole se dividiam.
--Vai ter golpe. De modo que essa eleição...
--Não sei. Como é que você sabe?
Pai Futaba achou melhor consultar os búzios.
--Gôrupe... impurovávero.
Ele sorriu.
--Miritaro. Noneburo.
Os filhos se entreolharam.
--O que é que ele está dizendo?
--Que militar não é burro.
--Será? Como é que ele sabe?
A coisa ficou por isso mesmo.
Só alguns dias depois os filhos de Futaba ouviram o rumor.
Um famoso técnico japonês em eletrônica desembarcava em Brasília.
Mitiraru Noneburo já realizara serviços para Vladimir Putin e a máfia japonesa.
--Parece que veio inspecionar as urnas eletrônicas.
--A convite da FAB? Ou do Exército?
--Parece que é capaz de alterar qualquer circuito.
--É isso, Pai Futaba?
O pai-de-santo sorri em silêncio.
A honra militar é forte entre os japoneses.
Mas por aqui ninguém parece disposto a fazer haraquiri.
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