Com posse de Bolsonaro, cobertura jornalística entrará em fase inédita desde a redemocratização

Quando Jair Bolsonaro tomar posse no dia 1º de janeiro, não será apenas uma nova era na política brasileira. A cobertura jornalística entrará em fase inédita desde a redemocratização.

O perfil de Bolsonaro e o modelo de formação de governo diferem do que foi visto até hoje em Brasília. Sim, talvez não seja tão absurdo assim compará-lo ao período de Fernando Collor (1990-1992), que mexeu, na época, nos padrões diários de cobertura.

Depois de oito anos de PSDB no Planalto com Fernando Henrique Cardoso, o primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva obrigou de certo modo repórteres a se adaptar a um presidente mais informal e a novas fontes de poder, no caso, ligadas ao PT.

As semelhanças de Collor e "Lula 1" com Bolsonaro param por aí. O principal sintoma de quão desafiante será cobrir o novo governo está no método de divulgação de informações oficiais. Esqueça notas oficiais ou anúncios via assessores ou porta-voz. Bolsonaro divulgou seu ministério em sua conta no Twitter.

Durante a transição, ele pegou de surpresa repórteres que estavam na sua cola não só pela imprevisibilidade temporal dos anúncios (não se sabia quando ele iria postar algo na rede), como surpreendeu com nomes não cogitados para determinada pasta –foi assim, só para ficar em dois exemplos, com os ministros de Infraestrutura (Tarcísio Gomes de Freitas ) e de Relações Exteriores (Ernesto Araújo ).

O modus operandi de montagem do primeiro escalão pelos antecessores de Bolsonaro facilitou a vida dos repórteres. Com os tais governo de coalizão, deputados e senadores indicados pelos partidos ocuparam cadeiras ministeriais. Eram políticos conhecidos, tradicionais e com características parecidas na atuação parlamentar e na relação com a imprensa.

Agora, não. O jogo mudou. Quem cobrir o mandato de Bolsonaro terá de esmiuçar a rotina de um tabuleiro inédito e entender o funcionamento dessa cara que dará as cartas na Esplanada, formada por militares e alguns civis um tanto desconhecidos.

Como os ministros divulgarão seus dados? Como as suas assessorias vão reagir a pedidos de informações de interesse público por parte dos veículos de imprensa? Haverá transparência? Ou resistência? Ao mesmo tempo, será um mundo novo para a mídia e para os que estão chegando ao poder com o presidente eleito.

Diante de um contexto sem precedentes, o desafio para os jornalistas será o de manter o foco na busca pela notícia e pela precisão da informação. Para o governo Bolsonaro, compreender e respeitar o trabalho da imprensa livre e profissional.

Leandro Colon, diretor da Sucursal de Brasília, foi correspondente em Londres. Vencedor de dois prêmios Esso.

Publicidade
Publicidade