Protagonistas femininas mais diversas roubaram a cena em séries de TV

A ascensão das protagonistas femininas, embalada em 2017 pelo movimento de denúncias sexuais no showbiz, amadureceu em 2018 com heroínas mais diversas, mas inegavelmente ambiciosas.

O tom distópico deu algum espaço à fantasia, aceno ao escapismo que busca no passado ou num futuro onírico o que nos falta no presente.

Em termos de negócios, o ano também trouxe a consolidação da Amazon, que já somara pontos com produções de temática ousadas, como produtora ambiciosa impecável em revisitar estéticas e temas clássicos.

Sua "A Maravilhosa Sra. Maisel" levou o Emmy e o Globo de Ouro de melhor série cômica e firmou Rachel Brosnahan como estrela ao reviver um esquecido estilo Frank Capra de contar histórias.

Sua hitchcockiana"Homecoming" trouxe Julia Roberts à tela pequena diante da câmera sublime de Sam Esmail ("Mr. Robot"), um diretor genial. Na sessão testosterona, teve a irregular mas divertida adaptação de "Jack Ryan" e a contundente "The Looming Towers", sobre o pré-11 de Setembro.

Grandes dramas também voltaram com vigor: "Handmaid's Tale", na segunda temporada, virou fenômeno de massa, com as vestes vermelhas das personagens de Margaret Atwood onipresentes em protestos feministas. "Ozark" o ano de estreia, graças à ascensão da personagem de Laura Linney, um reverso feminino do Walter White de "Breaking Bad".

E houve, também, decepções -mais do que nos anos recentes, resultado da hiperprodução. "Casa de Papel", sucesso do ano, não passou de um pastiche; a esperada "Confederated", fantasia dos criadores de "Game of Thrones" sobre os EUA se o Sul tivesse ganho a Guerra de Secessão, não saiu do papel; "House of Cards" chegou ao fim cheirando a defunto passado, e a aguardada ficção científica "Altered Carbon" se perdeu no maneirismo histérico.

Não vai melhorar, mas tampouco será difícil encontrar o que agrade. A multiplicação de plataformas de streaming deve alimentar, em 2019, a produção de séries para nichos específicos do público.

SURPREENDEU EM 2018

"Homecoming"
(Amazon Video)
Saiu de um podcast, evocou Hitchcock e pôs Julia Roberts para ser regida pelo gênio Sam Esmail em um drama policial de dar nó na cabeça

"Wild Wild Country"
(Netflix)
Por (re)apresentar o guru Osho e seu estranho séquito ao mundo em um momento em que respostas fáceis de pseudosalvadores rendem cliques, dinheiro e votos

"My Brilliant Friend"
(HBO)
Deu vida às personagens da tetralogia de Elena Ferrante de forma tão amorosa, humana e comprometida que o que era sublime em papel continuou sublime nas telas

"Dietland"
(Amazon Video)
Por tratar de feminismo com uma protagonista gorda, sarcástica, sem um emprego de sonhos –enfim, como uma mulher real– sem perder a graça

"Ozark"
(Netflix)
Deu um chega pra lá no protagonista correto de Jason Bateman e alçou a espetacular Laura Linney a anti-heroína calculista e engenhosa

O QUE ESPERAR EM 2019

"Game of Thrones"
(HBO)
A melhor saga política (travestida de fantasia) já produzida chega ao fim, com um esperado desfecho cataclísmico em seis episódios no ar a partir de abril. Depois de oito anos, saberemos, afinal, o que é o tenebroso inverno-zumbi imaginado por George RR Martin

"Good Omens"
(Amazon Video)
A plataforma que vem se superando entre fãs de sci-fi vai adaptar mais essa obra de Neil Gaiman com um elenco divino: Jon Hamm, Michael Sheen, Miranda Richardson, Nick Offerman e Frances McDormand como Deus

"City on a Hill"
(Showtime)
Poucas coisas são uma lembrança afetiva melhor dos anos 90 do que Kevin Bacon. Aqui ele é o veterano em uma unidade policial que investiga a corrupção em Boston, na clássica trama de detetive. A produção é de Ben Affleck e Matt Damon

"Pico da Neblina"
(HBO)
Principal lançamento brasileiro no ano, a série de Fernando e Quico Meirelles trata de um Brasil onde a maconha foi legalizada e de um traficante de baixo escalão que tenta se dar bem, resultando em um drama cômico com tons de crítica social

"Big Little Lies"
(HBO)
Aqui é mais apreensão do que qualquer coisa, mesmo com Meryl Streep no elenco. A série sobre os laços de solidariedade e recalque que juntam cinco mulheres em um balneário rico parecia perfeita onde acabou. Como continuar?

Luciana Coelho, editora de Mundo, foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington.

Publicidade
Publicidade