Candidato natural à reeleição, Covas enfrentará desafios como licitação de ônibus e privatizações

Bruno Covas, 38, começou a atual gestão paulistana como vice de João Doria, virou prefeito da cidade de São Paulo em abril passado, mas seguiu amarrado ao sucessor.

Durante a última campanha eleitoral, enquanto Doria suava para conquistar o governo do estado, Covas se manteve discreto. Pouco ousou. Não queria indicar nenhuma mudança de rumo na cidade enquanto o antecessor, também do PSDB, usava os 15 meses de gestão como vitrine.

Agora, enfim, o neto de Mário Covas (1930-2001) está livre para prefeitar. Terá, na prática, apenas 2019 para isso, já que 2020 é ano de eleição municipal, e a política costuma paralisar a cidade. Secretários deixam os cargos, vereadores só pensam na campanha e não votam mais nada, e gastos ficam limitados por causa da lei eleitoral.

Mesmo solto, não esperem do tucano algo que lembre as peripécias de Doria ou a busca por uma marca de gestão, como as controversas ciclovias de Fernando Haddad (PT). O estilo de Covas é um pouco água com açúcar e assim deverá permanecer.

Os desafios de Covas já são naturalmente complicados. O tucano terá de concluir as promessas feitas por ele e Doria nas eleições de 2016. Foram 118 compromissos, muitos deles estagnados.

As concessões e privatizações de equipamentos públicos, por exemplo, ainda não saíram do papel. É preciso convencer vereadores, promotores, juízes e conselheiros do tribunal de contas. Na fila de ofertas à iniciativa privada estão parques públicos, estádio do Pacaembu, complexo do Anhembi, autódromo de Interlagos e serviço funerário, entre outros.

Temas barulhentos também estão na lista. Covas irá esticar a corda para forçar a reforma da previdência municipal? Doria tentou antes de deixar o cargo, mas fracassou diante da pressão de professores grevistas e do recuo de vereadores. A cidade precisa desse ajuste nas contas, Covas sabe, mas gastará quanto de seu capital político para isso?

Outra bomba na mão dele é o atual sistema de ônibus. A megalicitação pode finalmente sair do papel e mudar contratos vigentes na cidade desde 2003. São estimados R$ 71 bilhões nos próximos 20 anos. A chance dele é reorganizar o sistema e oferecer mais agilidade e conforto a 8 milhões de passageiros por dia.

Covas está no cargo há cerca de oito meses. Nesse intervalo, já encarou três crises: as consequências da greve dos caminhoneiros, a queda de um prédio com sem-teto no largo do Paissandu e a ruptura de um viaduto na marginal. Não se esquivou em nenhuma delas, mas as duas últimas expuseram falhas graves de gestão.

O atual prefeito é candidato natural à reeleição em 2020, e licitação de ônibus, privatizações e reforma da Previdência não dão votos a ninguém, ao contrário do potencial impopular de uma cidade suja, da marginal interditada, das cracolândias vivas e de moradores de rua em cada esquina. A discrição do prefeito tem limites.

Eduardo Scolese, formado em jornalismo pela FIAM, é editor de Cotidiano e está na Folha desde 1998. No jornal, já foi repórter da madrugada, da Agência Folha e da Sucursal de Brasília, além de editor-assistente de política, secretário-assistente de Redação e coordenador da Agência Folha. É autor de quatro livros: "A Reforma Agrária", "Viagens com o Presidente", "Pioneiros do MST" e "Eleições na Estrada".

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