Transmitida pelo Aedes, chikungunya deve chegar com mais força à região Sudeste

Vivemos, em 2018, uma espécie de marasmo de dengue. Até novembro, foram contabilizados cerca de 240 mil casos em todo o país, cifra parecida com a de 2017. Acha muita coisa? Pois só em 2015 foram 1,65 milhão de pessoas com a doença.

Para o virologista Maurício Nogueira, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, essa "moleza" epidemiológica tem tudo para acabar.

A baixa nos casos nos últimos anos se deve à grande proporção de epidemias passadas, de três, quatro anos atrás. As pessoas infectadas se tornam imunes ao vírus circulante, mas outro subtipo ganha espaço e acaba se espalhando entre mosquitos e pessoas.

Além da volta com tudo da dengue, Nogueira aposta na chegada mais intensa da chikungunya à região Sudeste e, especificamente, a São Paulo. A moléstia pode causar dores terríveis e incapacitantes, além de matar.

Não dá para esquecer a febre amarela, que está sempre rondando São Paulo e matou ao menos 138 pessoas no estado neste ano. Nesses casos, é injusto culpar o Aedes. O mais provável é que os mosquitos envolvidos sejam do gênero Sabethes e Haemagogus, que geralmente habitam áreas de floresta e levam a doença de macacos para humanos.

Segundo Paolo Zanotto, professor da USP, o Aedes aegypti não sobrevive bem em floresta e não vem sendo bem colonizado pelo vírus da febre amarela, o que poderia causar um ciclo urbano da doença. Isso porque os A. Aegypti que temos no Brasil são de uma linhagem asiática, reintroduzida no país nos anos 1960 e 1970.

"Eles não são bons vetores da doença, tanto que não há febre amarela na Ásia", explica.

Zanotto é um dos líderes da Rede Zika, que ajudou o país a enfrentar os surtos entre 2014 e 2016. A doença, assim como a chikungunya, também tem minguado, mas os cientistas não sabem precisar se a tendência se manterá. Tudo é muito novo na área.

Descobertas recentes mostram que é possível que macacos sejam infectados e ajam como reservatórios do vírus da zika, perpetuando a doença no país. Se confirmados os resultados, novas estratégias serão necessárias.

O que fazer? Para a febre amarela, há vacina –e a cobertura vacinal anda baixa. Mas imunizações para zika e chikungunya ainda estão em desenvolvimento, e a única disponível para a dengue ainda é pouco aceita entre especialistas. Resta caprichar no repelente e tentar atrapalhar a reprodução do mosquito.

Gabriel Alves é repórter e blogueiro da Folha.

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