Decotes nas costas e nas laterais do corpo devem encher as vitrines nas próximas estações

O ano na moda pode ser lido como um grande bota-fora. As passarelas rasgaram decotes, abriram fendas e jogaram no lixo os excessos de roupa em prol de uma visão mais ensolarada, liberta de referências do passado e sexy.

Não o sexy destilado apenas em vestidinhos curtos e barriga de fora, mas um tipo de sensualidade que, como a Prada fez em Milão, reimagine os limites da exposição do corpo em decotes nas costas e nas laterais do tronco.

Os estilistas abriram frestas na imaginação para não só encurtar as saias como também aderir ao look ciclista com suas curvas sinuosas e shorts na altura dos joelhos, novo comprimento que deve encher as vitrines nas próximas duas estações.

Ao expurgar o comprimento mídi adocicado, padrão de feminilidade já ultrapassado que pode entrar no limbo das liquidações no próximo semestre, a moda revelou as coxas delineadas por saltos altos, cujas agulhas parecem querer furar a hegemonia dos tênis grifados de outras estações.

O perfume animalesco, porém, não se esvazia nas modelagens, porque também se mostra nas estampas de bicho, na matéria-prima de píton (cobra malaia) e em diversas gramaturas de couro, como nos tratados de elegância atemporal da Tod's e da Hermès.

Nenhuma nudez será execrada na nova cartilha dessa indústria novidadeira, porque ela é embalada com espessa camada de ativismo, no qual a palavra "liberdade" assume roupagem transgressora.

Só olhar a marcha de seios descobertos na Saint Laurent, as transparências da Courrèges, a confusão de gêneros da Maison Margiela, os troncos plastificados na alta-costura de Jean Paul Gaultier, o "nude" travestido de preto na Dior e os tons de pele ditando a nova era da inglesa Burberry que as segundas intenções da moda se revelam.

É hora de se despir de códigos, assumir novas silhuetas e, assim como se quis nos anos 1980, responder à caretice de um mundo colapsado pelas regras.

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NOVOS RUMOS PARA 2019

'Living Coral'
A empresa de colorismo Pantone elegeu como 'cor do ano' o laranja coral, um meio termo entre o terracota e o iluminado do crepúsculo. A tonalidade continua a série de cores quentes e acolhedoras.

Natural
Menos poliéster, mais linho, seda e algodão. A economia sustentável e a urgência de práticas responsáveis chegarão às vitrines, que devem ser tomadas de matéria-prima natural e cores abertas.

Textura manual
O efeito tridimensional da renda e do tricô é o que há de mais quente. Culpa da vida maquiada das redes sociais, que faz as pessoas valorizarem cada vez mais o que traga um sentido de realidade tátil.

Pedro Diniz é colunista da Folha.

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