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Sem ter 'céu próprio', primeiro observatório do país se reinventa
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GIULIANA MIRANDA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
Solitária, uma imponente luneta de seis metros de altura aponta para o céu, protegida por uma das poucas áreas verdes do bairro industrial de São Cristóvão. É um dos sinais da presença do mais antigo observatório astronômico do hemisfério Sul ainda na ativa.
Pouca gente sabe que ali, entre o estádio do Vasco da Gama e a feira de tradições nordestinas, é definida a hora oficial do Brasil. Prestes a completar 185 anos, o ON (Observatório Nacional), fundado por d. Pedro 1º, precisou se reinventar para continuar relevante para a ciência.
"Tem de ter criatividade e jogo de cintura", explica Sérgio Fontes, diretor do Observatório Nacional, reconhecendo que, muitas vezes, as limitações de verba e de flexibilização das atividades podem ser um empecilho para a competitividade do ON.
Sem os gigantescos telescópios de observatórios europeus e americanos e ladeado por forte poluição luminosa, o observatório teve de "terceirizar" suas observações ou buscar outras saídas.
Hoje, o ON é um dos líderes em astronomia solar. O Girasol (Grupo de Instrumentação e Referência em Astronomia Solar) construiu no campus um inovador telescópio para observação do Sol.
Divulgação | ||
Luneta do Observatório Nacional, que completa 185 anos |
E, se não pode vencê-los, o observatório se juntou a grandes projetos internacionais, como o DES (Dark Energy Survey), que construiu as mais potentes câmeras do mundo para tentar desvendar a energia escura, um dos misteriosos componentes do Cosmos.
O ON também tem um projeto de monitoramento de asteroides e cometas potencialmente perigosos para a Terra. As observações são feitas em um telescópio em Pernambuco, e os dados são enviados para análise no Rio.
Mas as atividades relacionadas à geofísica e ao petróleo foram as que mais cresceram nos últimos anos, impulsionadas pela injeção de recursos da Petrobras, que, por lei, precisou reinvestir parte dos lucros em pesquisa.
Protegidos em um abrigo no subsolo da sede do observatório, ficam os relógios atômicos, responsáveis por definir a hora oficial do país. Enquanto um bom relógio de quartzo perde 30 segundos de precisão por ano, um desses leva mais de 1 milhão de anos para atrasar 1 segundo.
NA MÉDIA
Atualmente, são 12 relógios desse tipo. Grosso modo, é pela média deles que se chega à hora oficial. Nove estão na sede e três em outros lugares, por segurança.
Algumas empresas e serviços, especialmente os do setor financeiro, precisam saber com precisão a hora das operações. E é aí que o ON entra, oferecendo um serviço de certificação da hora certa.
A receita ainda é pequena, diz a administração, mas já foi o suficiente para a instituição gerar dinheiro pela primeira vez na história.
Já o outrora popular "disque hora certa" hoje quase não recebe ligações. "Quando começa ou acaba o horário de verão tem algum aumento, mas a maioria já confere tudo no site", diz Fontes.
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