Movimento da pupila antecipa momento da tomada de decisão
Quando estamos olhando para um objeto, antes mesmo de conseguirmos reconhecê-lo já o analisamos e já "julgamos" como devemos tratá-lo. Essa é a maneira inusitada com que a visão opera no cérebro, conforme demonstra um estudo publicado na edição de desta terça-feira (5) do periódico científico "PNAS".
Num elegante experimento que demonstrou o fenômeno, um grupo liderado por Olivia Carter, do Laboratório de Ciências Visuais da Universidade Harvard, dispensou modernas tecnologias de mapeamento cerebral. Para saber o que se passava na cabeça das pessoas, bastou a ela observar os olhos das pessoas, e o comportamento das pupilas revelou tudo.
No experimento, voluntários foram apresentados a uma série de imagens ambíguas. Uma delas era o "cubo de Necker", uma figura clássica de ilusão de óptica, que dá margem a uma dupla interpretação sobre sua perspectiva.
Quando olhavam para o cubo, os voluntários relatavam de tempo em tempo qual das duas perspectivas parecia real. Mas eles mudavam de idéia o tempo todo. Enquanto acompanhava o que as pessoas diziam, a pesquisadora também monitorava o diâmetro de suas pupilas. Ela percebeu que, em alguns momentos, as pupilas dos voluntários sofriam um espasmo, dilatando-se, e logo em seguida eles "trocavam" de idéia sobre a interpretação da imagem.
A neurocientista Carter, porém, sabia que a dilatação de pupilas estava ligada a um fenômeno interno no cérebro: a reação em cadeia de uma molécula chamada norepinefrina, transmissora de impulsos nervosos.
Quando ativada em um setor do tronco cerebral --estrutura que conecta o cérebro à medula espinhal--, essa substância provoca o alargamento da pupila.
Atitude
Esse mesmo mecanismo está associado também à tomada de iniciativa. A norepinefrina age no momento em que uma pessoa deixa de analisar um problema para pôr a mão na massa e começar a resolvê-lo. Carter descobriu que essa via de transmissão de impulsos nervosos, que impele as pessoas à ação, é a mesma que inconscientemente obriga as pessoas a escolherem uma das interpretações da visão que lhes é apresentada.
"A evidência atual sugere que esse complexo está envolvido em otimizar o equilíbrio entre "aproveitar" (continuar fazendo o que se faz) e "explorar" (libertar-se e escolher uma das alternativas possíveis)", escreveram Carter e colegas na "PNAS".
É como se fosse o instante em que uma pessoa prestando vestibular se dá conta de que não sabe resolver uma questão e "chuta" uma das alternativas.
A neurociência, afinal, está mostrando que o mero ato de olhar já implica em uma tomada de decisão.
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