Superprodução brasileira tenta mostrar ciência do cotidiano
Qual é a melhor maneira de explicar por que as pessoas dentro de um carro estão protegidas caso sejam atingidas por um raio? Levando você mesmo uma descarga dessas e sobrevivendo para contar a história.
É esse o raciocínio do programa "Ciência em Casa", que estreia nesta quinta no canal pago NatGeo.
A Folha acompanhou um dia de gravações da atração, comandada pelo trio de físicos Wilson Namen, Gerson Santos e Daniel Ângelo.
Gabo Morales/Folhapress | ||
Apresentador é alçado por balões de gás hélio durante gravação do programa Ciência em Casa |
Há 12 anos apresentando shows que mesclam entretenimento e ciência, com várias participações e quadros em programas de variedades, o time do "Ciência em Casa" agora se lança em voo solo.
Em um laboratório da USP, mais de uma dezena de profissionais, entre cientistas e produção, esforçavam-se na regulagem de uma complexa geringonça de mais de três metros de altura que permitiu simular um raio na frente das câmeras.
Depois de algumas horas de testes, a equipe finalmente deu sinal verde para que o físico Gerson Santos fosse "atingido" pelo raio.
Nas filmagens anteriores, ele já havia ficado suspenso por um guindaste amarrado a uma calça jeans e enfrentado uma jornada disfarçado de embalagem dentro de um caminhão. Dois dias depois, seria a vez de voar amarrado a balões de hélio.
Gabo Morales/Folhapress | ||
Os apresentadores Wilson Namen, Daniel Ângelo e Gerson Santos durante gravação do programa Ciência em Casa |
Tanto esforço, diz o trio, é para aproximar a ciência da realidade do espectador.
"O objetivo é romper esse pensamento de que a ciência é algo intransponível. Queremos mostrar que ela está em tudo, inclusive dentro da rotina, da nossa própria casa", explica Wilson Namen.
De uma maneira geral, a proposta do programa é uma espécie de mistura de dois conhecidos programas de ciência: "O Fantástico Mundo de Beakman" com "Myth Busters". Além de tiradas divertidas, experiências e muita ciência do dia-a-dia, o grupo também aproveita para acabar com alguns mitos consagrados.
"É o caso do raio e do carro. Muita gente acha que é por causa da borracha do pneu, quando na verdade isso não tem nada a ver. É um efeito chamado gaiola de Faraday", diz Daniel Ângelo, em referência à célebre descoberta de Michael Faraday.
O físico descobriu, há mais de um século, que é possível haver uma blindagem elétrica formada por superfície condutora, que "protege" o que está dentro dela das descargas. No caso do carro, as descargas elétricas se espalham pela superfície metálica, deixando a salvo os passageiros.
"Os temas podem parecer difíceis à primeira vista, mas nós tentamos deixar a linguagem o mais simples possível. É um programa que é feito para toda a família", completa ele, que afirma que há espaço para essa mistura de ciência com entretenimento.
"As pessoas querem saber. Elas se interessam pelo tema. Às vezes, só falta um empurrãozinho. Tem muita criança querendo ser jogador de futebol porque há vários exemplos positivos de gente que se deu bem com isso. Precisamos mostrar esse outro lado da ciência", diz Wilson Namen.
E esse jeito irreverente não atrapalha na hora de dialogar com o meio acadêmico? De jeito nenhum, diz o trio.
"Todo mundo sabe que nós fazemos um trabalho sério de divulgação da ciência. Não fosse assim, nós não teríamos apoio da USP e de outras instituições de respeito" afirma Gerson, que em 2004 defendeu uma dissertação de mestrado sobre o tema.
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