Site brasileiro permite que cidadão ajude em pesquisa científica

Iniciativa quer incentivar a sociedade a se aproximar da ciência

Bibiana Maia
Rio de Janeiro

Bianca Bento, 39, aproveitou o sábado para coletar dados sobre resíduos plásticos na praia do Recreio, na zona oeste do Rio. Seria um dia normal para um pesquisador da área, mas o detalhe é que Bianca é dentista.

As informações que ela ajudou a coletar gratuitamente foram depois cadastradas no site Fast Science e usadas pelo Programa de Dinâmica dos Oceanos e da Terra, da UFF (Universidade Federal Fluminense).

Voluntários participam de ação de coleta de dados sobre resíduos na Praia do Recreio, Zona Oeste do Rio
Voluntários participam de ação de coleta de dados sobre resíduos na Praia do Recreio, Zona Oeste do Rio - Raphael Dosurf/Divulgação

A plataforma on-line permite que qualquer pessoa participe de uma pesquisa científica e já reúne 282 usuários atuando em 13 projetos.

No ar há um ano, o site é fruto da tese de doutorado em Sistemas da Informação, pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), da bióloga Gilda Esteves.

O pesquisador cadastra as tarefas e recompensas pela colaboração, se houver. Os brindes ficam a critério do pesquisador e podem ser desconto em cursos e equipamentos, por exemplo.

Alguns artigos já foram publicados também com agradecimentos aos voluntários.

Do outro lado, o voluntário escolhe o projeto, realiza as atividades e envia os dados. Assim, é criada uma comunidade em prol da ciência.

"São tarefas muitas vezes semelhantes às que os pesquisadores realizam, e os resultados serão utilizados para resolver problemas científicos reais. Os voluntários podem realizar tarefas on-line, classificando ou rotulando imagens, por exemplo, ou fazendo observações do mundo real", diz a pesquisadora.

Para ela, entre os benefícios da iniciativa estão ampliar a equipe de trabalho, coletar dados por longos períodos de tempo e em grandes áreas geográficas e processar grandes volumes de informação, além de promover a educação e a disseminação da ciência.

Com Qualidade

Membro do Comitê de Assessoramento de Oceanografia do CNPq, o professor Pedro Walfir Martins e Souza Filho, da Universidade Federal do Pará (UFPA), diz que é importante que pesquisas neste modelo deixem claro sua metodologia.

"Qualquer pesquisa rigorosa tem que descrever muito bem o método de coleta dos dados. Caso contrário, a informação produzida perde credibilidade, porque não se sabe sua natureza."

Para garantir a qualidade dos dados, Esteves diz que é possível usar a captura automática de informações nos celulares, como geolocalização, e coletas feitas por diferentes voluntários em áreas semelhantes para que, desta forma, o grande volume valide o resultado.

"O pesquisador tem que avaliar o que quer responder e dividir esta tarefa em outras mais fáceis", conta Esteves.

 
Depois de colocar o Fast Science no ar, ela decidiu criar a Blue Change, uma iniciativa voltada para ambientes marinhos e costeiros ao lado de outra pesquisadora, Simone Milach.
 

A ideia é fazer a ponte entre ONGs que já mobilizam pessoas em ações de educação ambiental e as pesquisas científicas que participam do Fast Science. A dentista Bianca Bento participou de uma ação assim.

Os dados que Bianca recolheu estão agora sendo avaliados pelo professor José Antonio Batista, da UFF. Ele conta que a iniciativa está funcionando como um laboratório para depois aplicar em grande escala e publicar as informações:

"Estamos pesquisando microplástico e toda vez que vamos a campo o trabalho demanda muito tempo. O Rio tem muitas praias e o cidadão comum treinado pode auxiliar esta pesquisa", conta ele, que não vê barreiras ou perfil específico para ser voluntário. "A possibilidade de integrar a sociedade em um projeto de pesquisa foi o que me chamou atenção."

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