Veterinários dos EUA vivem dilema sobre maconha medicinal

Apesar de legalizada para uso humano, estados têm legislação dúbia sobre animais de estimação

Nova York | Reuters

Uma série de pesquisas médicas tem gerado novos indícios de que a maconha pode ajudar no tratamento de artrite, epilepsia, ansiedade e outras doenças em cães e gatos, sem os efeitos colaterais de remédios tradicionais, mas veterinários nos Estados Unidos temem violar leis federais ao receitá-la.

Ao menos 30 estados legalizaram o uso da maconha medicinal, mas nenhum deles emitiu cláusulas sobre o que fazer em casos de animais doentes.

Vendedora exibe tintura de cânabis com CBD concentrado para tratar animais de estimação  - Lucy Nicholson/Reuters

Como resultado, veterinários relutam até mesmo em falar sobre a maconha, que continua sendo ilegal de acordo com a lei federal americana, por medo de colocar suas licenças profissionais em risco, disse Jeffrey Powers, presidente do subcomitê de canabinoides da Associação Americana de Medicina Veterinária.

Isso faz com que os próprios donos dos animais precisem tomar sozinhos decisões importantes, como a dosagem e duração do tratamento.

Uma mudança pode ocorrer em breve na Califórnia, que parece prestes a aprovar a primeira lei do país que daria a proteção jurídica que os veterinários precisam para receitar o uso de maconha medicinal para tratar animais de estimação.

"Um humano pode receber conselhos de seu médico, mas, legalmente, um cachorro não pode. É bizarro", disse Judy Boyle, de 62 anos, cujo cão Mac vem há anos tomando remédios tradicionais para tratar artrite e ansiedade. O efeito cumulativo dos medicamentos estava causando insuficiência renal em Mac.

Em março, após pesquisa na internet, Judy decidiu substituir os remédios por petiscos de canabinoide para tratar seu boiadeiro australiano de 18 quilos. Cinco meses depois, ele está muito mais calmo e disposto, e sua função renal voltou ao normal pela primeira vez em anos, disse Judy.

O canabidiol --um extrato de cânabis também conhecido como CBD-- é o principal ingrediente de óleos de maconha, petiscos e outros produtos para animais de estimação, que agora estão mais populares do que nunca nos EUA. 

O CBD está associado ao alívio da dor, ao contrário do THC, o ingrediente da maconha associado ao uso recreativo, que, em altas concentrações, pode causar sensações eufóricas.

Como o governo federal continua rotulando a cânabis como uma substância controlada e o secretário de Justiça, Jeff Sessions, prometeu ser mais rígido em relação à maconha, muitos veterinários foram alertados por seus conselhos estaduais a não mencionarem a substância como opção de tratamento.

Atualmente "os veterinários cometem uma violação da lei da Califórnia se incorporam a cânabis em seus consultórios", disse o Conselho de Medicina Veterinária local. O mesmo vale para a maioria dos estados americanos.

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