Cartilha do astronauta já previa cargo quando ele se filiou ao PSB em 2013

Defendendo "humildade", Pontes falava em ocupar Ciência e Tecnologia, Educação, FAB ou AEB

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Primeiro e único, até aqui, astronauta brasileiro, o ministro indicado da Ciência e Tecnologia já dizia que poderia ocupar o cargo no distante 2013.

O astronauta Marcos Pontes, que foi indicado para ser o novo ministro da Ciência e Tecnologia
O astronauta Marcos Pontes, que foi indicado para ser o novo ministro da Ciência e Tecnologia - Raquel Cunha - 28.out.2016/Folhapress

Naquele ano, o tenente-coronel da reserva Marcos Pontes filiou-se ao PSB para buscar uma vaga na Câmara dos Deputados em 2014. Não deu certo, e seus 43.707 votos em São Paulo apenas lhe deram uma suplência nunca convertida em mandato.

Para aquela campanha, ele distribuiu entre dirigentes do PSB um livreto chamado "O Menino do Espaço - A História do Primeiro Astronauta Brasileiro", no qual se disse preparado para uma série de cargos públicos de ponta —inclusive o que o capitão reformado Jair Bolsonaro (PSL) lhe reservou.

"Com sua grande experiência profissional, ele poderia ser designado, por exemplo, para assumir a presidência da Agência Espacial Brasileira. Ou, até mesmo, o Comando da Aeronáutica, o Ministério da Defesa, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação ou o Ministério da Educação", diz o autor na página 38 do exemplar, revelado pela Folha então.

Pontes foi a espaço numa Soiuz russa em 2006, um golpe publicitário do governo Lula que custou então US$ 10 milhões (US$ 37 milhões hoje) ao país. Ele havia sido treinado para voar em ônibus espaciais americanos, mas a tragédia da Columbia em 2003 então congelou missões.

Aprendeu a manejar a tradicional Soiuz, cavalo de carga de programas espaciais desde os anos 1970 e que sofreu uma falha quase catastrófica no começo de outubro. O fato de que o defeito no lançamento não matou os cosmonautas é visto como prova da robustez do velho projeto soviético.

A terminologia astronauta, aliás, é imprecisa. Como voou em nave russa, tecnicamente o antigo aderente do Partido Socialista Brasileiro é um cosmonauta, designação usada na Guerra Fria para diferenciar tripulações americanas e soviéticas/russas que vale até hoje.

Talvez tanta associação com a União Soviética não caia bem no governo que promete extirpar o comunismo no Brasil, como já disse o presidente eleito. O astronauta, que chegou a ser cotado para o cargo de vice de Bolsonaro, filiou-se neste ano ao PSL.

Pontes, no seu panfleto de 2013, usa de sua experiência de vendedor de cursos de autoajuda e de "travesseiros da Nasa" para delinear suas características. Ao citar "resistências e críticas" a seu nome, diz: "Praticamente nulas; não há nada significativo ou factual". Depois, prega "humildade" como uma de suas 20 "dicas de ouro do astronauta".

Pontes não é o único astronauta que só voou uma vez a tentar a sorte na política. Jugderdemidin Gurragcha, primeiro e também até aqui único mongol no espaço, foi ministro da Defesa de seu país de 2000 a 2004. Popular, ele tem uma sala só para seus feitos no voo da Soiuz em 1981 no Museu de História Natural da Mongólia, em Ulan Bator.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.