Projetos de divulgação científica ganharão até R$ 100 mil para decolar

De quase 900 projetos submetidos, 14 serão financiados pelo Instituto Serrapilheira

São Paulo

Com temas que vão da preservação de corais à busca de solução de para problemas do campo, 14 projetos de divulgação científica receberão até R$ 100 mil cada um para iniciar ou aprimorar suas atividades em 2019. 

Os 14 são vencedores de um edital do Instituto Serrapilheira, instituição privada de apoio à pesquisa e à divulgação científicas lançada em 2017 pelo documentarista João Moreira Salles, herdeiro do banco Itaú, e sua mulher, a linguista Branca Vianna.

Quase 900 projetos foram submetidos. Após uma peneira restaram 50, cujos proponentes participaram de um evento no início de setembro no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. Uma segunda avaliação elegeu os vencedores; a Folha obteve a lista com exclusividade. 

Os requisitos para receber o financiamento eram experiência em divulgação científica e um projeto comparável a boas iniciativas no exterior, segundo Natasha Felizi, diretora de divulgação científica do Serrapilheira. “Tentamos selecionar as propostas  mais inovadoras e com potencial de excelência.”

Para Felizi, um sinônimo de inovação são os podcasts, programas de áudio cujos episódios podem ser baixados em aplicativos de celular ou escutados em sites. 

Um deles será comandado por Fernanda Diamant, editora da revista literária 451. O podcast dela abordará obras clássicas da divulgação científica, a começar pela “Origem das Espécies”, do naturalista britânico Charles Darwin.

Entusiasta da área científica, ela acabou cursando jornalismo e filosofia. 

“Sempre me interessei muito por filosofia da ciência e pelos naturalistas. Sou uma cientista frustrada que virou jornalista e editora de livros e que agora está juntando as duas coisas”, conta Diamant, que também é curadora da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty).

Seu projeto também prevê uma seção fixa de divulgação científica na 451 e uma newsletter gratuita sobre o tema.

Outro projeto vencedor foi o Silo, que desenvolve atividades artísticas, culturais e científicas na zona rural do Rio de Janeiro com temas como a redução de impacto ambiental, arte, tecnologia e autonomia e feminismo.

“A gente busca uma maneira de resgatar a cultura do campo e, ao mesmo tempo, melhorar a vida das pessoas. É possível ter acesso à cultura e à ciência sem ter que sair daqui”, diz a artista, pesquisadora e diretora da iniciativa Cinthia Mendonça, que é filha de agricultores.

Uma das ações do Silo reuniu engenheiros e cientistas para otimizar a fabricação de biofertilizantes. “Isso cria a oportunidade de falarmos de floresta, biomassa, nutrição de plantas… Cada ponto abre uma janela para divulgar esses assuntos.”

Também há projetos de olho no mar, mais especificamente nos corais da costa do Nordeste. Guilherme Longo é pesquisador da UFRN e agora é bicampeão no Serrapilheira —ele já havia ganhado o fomento para sua pesquisa, que investiga o fenômeno do branqueamento de corais, que pode estar ligado ao adoecimento e morte dos bichos.

“A ideia é responder se os recifes brasileiros estão prontos para as mudanças climáticas, mas não adianta fazer ecologia histórica e modelos matemáticos se a população continuar de costas para o 
problema”, diz.

Seu projeto #DeOlhoNosCorais busca a colaboração dos mergulhadores recreativos. Nas redes sociais, basta informar onde foi o mergulho e colocar a hashtag do projeto.

Com a verba recebida, será possível profissionalizar a divulgação do projeto e a elaboração de vídeos e infográficos e criar um minimuseu sobre os corais na área de proteção ambiental dos Recifes de Corais, no Rio Grande do Norte.

Um outro projeto premiado é de particular interesse para jornalistas de ciência e instituições de pesquisa. A jornalista Sabine Righetti, por meio de sua empresa, a Data14, quer criar um portal que produza e forneça conteúdo de divulgação científica em português para jornalistas. A ideia é fomentar a divulgação de pesquisas brasileiras.

“Às vezes é mais fácil saber o que acontece na Nasa do que o que acontece na USP”, diz a jornalista, que também é colaboradora da Folha. O projeto, que já recebeu verbas da Fapesp, se manterá no longo prazo com taxas cobradas de instituições de pesquisa, empresas e universidades. 

Com relação ao financiamento obtido,  Righetti enaltece a liberdade para gastar os recursos. "Todo projeto inovador muda ao longo do caminho e o Serrapilheira permite que você mude junto com ele. Isso é uma demonstração de confiança."

Conheça todos os selecionados:

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.