Descrição de chapéu The New York Times

Pterossauros tinham penas? Cientistas chineses dizem que sim e causam celeuma

Se dado for verdadeiro, será a 1ª vez que penas terão sido identificadas em animais que não sejam pássaros ou dinossauros

Nicholas St. Fleur
Nova York | The New York Times

Os pássaros são famosos por suas penas coloridas, que eles usam para voar, flertar e se manterem aquecidos. Mas muito antes que as aves começassem a bater as asas, répteis voadores chamados pterossauros tomaram o céu.

Entre os paleontologistas, por muito tempo a suposição foi a de que essas criaturas aladas não tinham penas. Mas uma equipe de pesquisadores encontrou o que acredita serem estruturas minúsculas ocultas em dois fósseis de pterossauros encontrados na China, e as interpreta como penas— menos elegantes mas comparáveis à plumagem dos pássaros e dos dinossauros.

Concepção artística de pterossauro com quatro tipos diferente de penas na cabeça, pescoço, corpo e asas, segundo descrição de fósseis achados na China
Concepção artística de pterossauro com quatro tipos diferente de penas na cabeça, pescoço, corpo e asas, segundo descrição de fósseis achados na China - REUTERS

Mais espécimes são necessários para confirmar a descoberta, questionada por outros paleontologistas.

Se for verdade, a data de origem das penas veio 70 milhões de anos mais cedo do que se calculava, e será a primeira ocasião em que penas foram identificadas em animais que não pássaros ou dinossauros.

“A pena tem origens mais profundas, não em um pássaro mas talvez nos ancestrais dos pássaros, dinossauros e pterossauros”, disse Baoyu Jian, paleontologista da Universidade de Nanjing, na China, e líder da equipe que recolheu os fósseis. A pesquisa de seu grupo foi publicado na segunda-feira pela revista acadêmica Nature Ecology & Evolution.

Alguns pterossauros tinham a altura de girafas, e asas com envergadura equivalente à de um caça F-16.

Embora às vezes sejam retratados como animais escamosos, o registro fóssil já revelou diversos exemplares de pterossauros penugentos, envoltos em mantos fofos feitos de estruturas minúsculas chamadas picnofibras. Diferentemente das penas de pássaros, que contém um eixo central do qual derivam outras hastes, as picnofibras dos pterossauros eram vistas como um material semelhante aos pelos ou cabelos, formado por filamentos únicos.

No recente estudo, Jiang e seus colega Zixiao Yang examinaram fósseis recolhidos na China de pterossauros juvenis de cauda curta, mais ou menos do tamanho de pombos. Os dois espécimes estavam no geral recobertos por picnofibras ocas e sem ramos semelhantes a pelos. Mas a equipe em seguida encontrou uma forma de estrutura ramificada, semelhante a um pincel de pintura curvo, no pescoço, em partes dos membros anteriores e pata, e na cauda de um dos espécimes.

Uma segunda estrutura, localizada na cabeça desse mesmo espécime, tinha um ramo central do qual derivava um segundo ramo mais ou menos na metade de sua extensão, como uma corda que estivesse se desfiando. E uma terceira estrutura, encontrada nas membranas das asas dos dois pterossauros, parecia uma pena macia de galinha.

Em contraste com as penas esguias e desenho aerodinâmico vistas nos pássaros modernos, elas pareciam servir principalmente para isolamento, segundo os pesquisadores.

Alguns paleontologistas haviam atribuído a origem das penas aos dinossauros, cerca de 180 milhões de anos atrás, no Jurássico inicial e médio. Embora os espécimes de pterossauros encontrados tenham idade de entre 160 milhões e 165 milhões de anos, sua linhagem e originou 230 milhões de anos atrás, e a nova descoberta representa novo indício de que existiu um antepassado comum para as aves, dinossauros e pterossauros, que ou tinha penas ou estava equipado com os genes necessários a desenvolvê-las no futuro.

Os pesquisadores revelaram suas conclusões a Maria McNamara, paleobióloga do University College Cork, na Irlanda, que executou uma análise do material usando um microscópio eletrônico.

“Quando vi os espécimes pela primeira vez, e os ramos nas picnofibras, não acreditei”, disse McNamara.

Mas ela diz que mudou de opinião quando distinguiu um arranjo sistemático de ramos, como o das penas. Outros cientistas continuam céticos.

“Eu não diria que eles obtiveram provas conclusivas, mas certamente algumas das imagens mostram o que parecem ser filamentos ramificados”, disse Matthew Shawkey, biólogo evolutivo da Universidade de Ghent, na Bélgica. “Mas é claro que muitas coisas na natureza se ramificam, como os galhos de uma árvore, e portanto isso não significa que estejamos diante de penas”.

Outros cientistas foram mais diretos.

“Eu não usaria o termo penas para descrever essas estruturas”, disse Julia Clarke, paleontologista da Universidade do Texas em Austin, que acrescentou que preferiria usar outro nome para elas, como filamentos ramificados ou estruturas tegumentárias ramificadas.

Jingmai O’Connor, paleontologista do Instituto de Paleontologia de Vertebrados e Paleoantropologia da Academia Chinesa de Ciências, em Pequim, acautelou que era difícil interpretar penas e estruturas semelhantes a penas obtidas em fósseis achatados.

“Eu não sei se as morfologias descritas para as picnofibras desse espécime são válidas”, disse O’Connor.

“Nos dinossauros, afirmações semelhantes quanto a tipos morfológicos incomuns de penas foram feitas, e vêm sendo lentamente refutadas, uma a uma. Só o tempo, e espécimes melhores, dirá”.

Mas Michael Benton, paleontologista da Universidade de Bristol, na Inglaterra e um dos autores do estudo, disse que as estruturas são comparáveis a penas observadas em pássaros e dinossauros.

“Esses três tipos adicionais mostram ramificações”, ele disse, “e se você observar a definição comum do dicionário sobre as penas, eles são penas”.

Tradução de Paulo Migliacci

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.