Descrição de chapéu The New York Times

Cientistas conseguem reviver células cerebrais de porcos mortos

Estudo ainda é inicial e não tem implicações imediatas para tratamento de lesões cerebrais em humanos

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Gina Kolata
Nova York | The New York Times

Em um estudo que levanta profundas questões sobre a linha que divide a vida e a morte, pesquisadores recuperaram alguma atividade celular no cérebro de porcos mortos.

Nada próximo à consciência foi recuperada: não havia sinalização elétrica coordenada, necessária para funções como inteligência e consciência. 

Mas em um tratamento experimental, vasos sanguíneos nos cérebros de porcos voltaram a funcionar, com um substituto de sangue, e algumas células cerebrais recobraram a atividade metabólica —até mesmo com resposta a drogas.

Tomografia de cérebro de porco
Tomografias de cérebros de porcos irrigados com a substância desenvolvida pelos cientistas - Nature

Quando os pesquisadores testaram fatias do cérebro tratado experimentalmente, eles descobriram atividade elétrica em alguns neurônios.

O trabalho é muito preliminar e não tem implicações imediatas para tratamento de lesões cerebrais em humanos. Mas a ideia de que partes do cérebro podem ser recuperadas depois da morte —levando em conta a definição tradicional que temos até o momento— contradiz tudo que a ciência médica acreditava sobre o órgão.

"Nós tínhamos linhas claras: 'isto está vivo' e 'isto está morto'", diz Nita Farahany, especialista em bioética e professor de direito da Universidade Duke. "Como pensaremos agora nessa categoria intermediária de 'parcialmente vivo'? Nós não pensávamos que isso poderia existir."

Por décadas, médicos e famílias se questionavam se seria possível recuperar funções de uma pessoa que sofreu danos cerebrais extensos por derrames ou ataques cardíacos. Estariam esses cérebros realmente sem chance de salvação?

A nova pesquisa, publicada nesta quarta (17) na revista Nature, confirma quão pouco sabemos sobre cérebros lesionados e morte cerebral. 

"Se há algo na ética científica e médica que merece deliberação do grande público, é essa", diz o especialista em bioética da Universidade da Pensilvânia. 

Até agora, assumia-se que o cérebro é rapidamente afetado quando privado de sangue. As células se deterioram e as conexões entre neurônios colapsam. Cientistas acreditavam que tais efeitos eram irreversíveis, a menos que o suprimento de sangue fosse rapidamente recomposto. 

Pesquisadores da Universidade Yale, nos EUA, utilizaram-se dos cérebros de 32 porcos mortos para consumo. Quando o experimento teve início, os cérebros já estavam sem circulação sanguínea e à temperatura ambiente por quatro horas.

O time de cientistas desenvolveu um sistema chamado BrainEx, que bombeia uma solução experimental no cérebro. A expectativa é que, futuramente, a técnica possa ajudar no tratamento de derrames, danos cerebrais e até de doenças como alzheimer. 

A solução em questão foi bombeada nos cérebros dos porcos por seis horas. Com ela, os tecidos foram oxigenados.

Algumas substâncias presentes na solução bloqueavam sinais dos nervos, porque os cientistas cogitaram que as células inativas permaneceriam mais preservadas e seus metabolismos poderiam ser mais facilmente reiniciados.

Além disso, os cientistas não queriam ter a possibilidade dos cérebros recobrarem a consciência. Se houvesse qualquer indicação elétrica disso, a equipe planejava anestesiar o órgão e o resfriar imediatamente, interrompendo o processo.

Como controle, os pesquisadores também observaram cérebros que não receberam a substância BrainEx e outros que receberam uma substância inerte —em ambos os casos, os órgãos não tiveram sinais de atividade e as células se deterioraram. 

"Não é um cérebro vivo, mas é um cérebro com atividade celular", diz Nenad Sestan, neurocientista da Unviersidade Yale e responsável pela pesquisa.

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