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Mídias sociais são estratégicas para divulgação de pesquisas

Participantes do programa Ciência Aberta defendem o incentivo à formação de pesquisadores que possam divulgar o próprio trabalho

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André Julião
São Paulo | Agência Fapesp

Pesquisadores que divulgam bem o próprio trabalho, levando o conhecimento gerado na academia para um público mais amplo, devem ser reconhecidos e incentivados por suas instituições. A divulgação científica, inclusive, é fundamental para que a população saiba o que está sendo feito em universidades e centros de pesquisa e possa defender os investimentos públicos em ciência e tecnologia.

As conclusões são dos participantes do quarto episódio do programa Ciência Aberta em 2019, lançado nesta quarta-feira (12/06). O programa é uma parceria da Fapesp com a Folha.

 

“É preciso haver um movimento para que, mais do que nunca, as instituições incentivem os seus pesquisadores [a divulgar a ciência]. Não precisamos que todo mundo faça, mas devemos reconhecer aqueles que fazem e que fazem bem. Que esses ganhem pontos em sua carreira”, disse Germana Fernandes Barata, professora no Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). 

Segundo Germana, embora haja iniciativas como o Programa José Reis de Incentivo ao Jornalismo Científico (Mídia Ciência) da Fapesp, que concede bolsas para a formação de profissionais capazes de lidar com informação sobre ciência e tecnologia, o peso de projetos do tipo no currículo dos pesquisadores é muito mais baixo do que as produções científicas tradicionais.

Uma das sugestões de Germana foi que uma divulgação bem-feita possa ter o mesmo valor na avaliação de um pesquisador do que um artigo científico.

Participantes do quarto episódio do programa Ciência Aberta sobre mídias sociais e divulgação de pesquisas
Participantes do quarto episódio do programa Ciência Aberta sobre mídias sociais e divulgação de pesquisas - Felipe Maeda / Agência Fapesp

“Às vezes, um artigo científico será lido por 15 pessoas e uma vai citá-lo. Mas um vídeo no YouTube [sobre o mesmo tema] pode ter milhares ou milhões de visualizações. Estamos dando importância só para quando um outro cientista olha o que fazemos, em vez de vários estudantes usando aquele conhecimento para ir melhor em uma prova ou para compreender melhor uma área do conhecimento. Falta às instituições reconhecerem e valorizarem essa atividade”, disse.

Nesse sentido, as redes sociais trazem uma oportunidade única, na medida em que proporcionam o contato direto entre os pesquisadores e a sociedade.

“[Os políticos] dão uma importância às redes sociais que cientista nenhum no Brasil dá. O fato de a ciência não estar nesses meios, justamente quando eles são tão importantes politicamente, faz com que a ciência no Brasil seja invisível hoje. Há muito mais chances de alguém conhecer qualquer universidade por uma postagem falsa em uma rede social do que saber de uma pesquisa feita na universidade”, disse Atila Iamarino, biólogo e um dos fundadores da rede ScienceBlogs Brasil e do canal Nerdologia, que tem mais de 2 milhões de seguidores no YouTube.

Para Iamarino, a ciência brasileira perde por não interagir nas redes sociais. Nesses espaços, quem tem audiência é quem fala mais e melhor com o público, sem necessariamente ter uma boa reputação. O cientista, por sua vez, apesar da boa reputação não tem incentivo para comunicar o que faz. Segundo Iamarino, no longo prazo essa falta de visibilidade pode se converter em falta de recursos financeiros para a pesquisa.

Os convidados ressaltaram que criar uma cultura de divulgação da pesquisa não significa que todo pesquisador deva ser obrigado a fazê-la, mas que os que se propuserem devem ser recompensados por isso.

“Um profissional que consegue conduzir uma boa pesquisa e produzir um artigo científico com relevância, com dados bem coletados, tem de ser valorizado. Do mesmo jeito, deve-se valorizar quem quer divulgar. Não necessariamente precisa ser a mesma pessoa”, disse Altay Lino de Souza, pesquisador no Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e um dos criadores do podcast Naruhodo!.

“Há quem faça pesquisa excelente e não consegue divulgar, ou não gosta, e tem quem goste de fazer os dois. Têm também aqueles que são de fora [da academia] e querem divulgar. A questão é criar um ecossistema em que haja espaço para todos”, disse.

Para Iamarino, que fez doutorado e pós-doutorado antes de se dedicar integralmente à divulgação científica, instituições e pesquisadores respondem muito bem a metas e números. Segundo ele, entre os principais critérios de avaliação estão a produção de artigos científicos e o número de alunos formados, mas há pouco incentivo formal para a divulgação. 

Como fazer

Durante o episódio do Ciência Aberta, os especialistas deram dicas de como pesquisadores podem melhorar sua comunicação nas redes sociais, como usar analogias para explicar conceitos complexos. Além disso, eles ressaltaram que embora o trabalho científico exija precisão, no caso da divulgação o pesquisador pode perder alcance à medida que tenta ser muito preciso. Por isso, o melhor seria buscar equilibrar esses dois fatores.

Divulgar artigos científicos por meio da ferramenta stories do Instagram é uma tendência, disse Souza. Atualmente, alguns pesquisadores usam o recurso para resumir, usando fotos e vídeos, suas publicações mais recentes.

Em pesquisa realizada durante estágio de pós-doutorado na Simon Fraser University, no Canadá, Germana concluiu que o Instagram é a rede social mais amigável para mulheres e minorias naquele país, com bastante apelo para temas relacionados a saúde.

Outra dica foi o uso de threads no Twitter para explicar o conteúdo de um artigo científico, o que funcionaria melhor do que apenas postar o link do artigo nessa rede social ou no Facebook.

“Está na hora de levarmos as redes sociais mais a sério e assumir que elas são absolutamente estratégicas hoje e que isso também deve fazer parte do nosso trabalho como pesquisador. Como influenciadores que somos, isso precisa ter um investimento para que possamos fazer de forma bem-feita”, disse Germana.

O episódio de Ciência Aberta teve a participação de alunos da Escola Estadual Manuel Ciridião Buarque, da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP) e de interessados que se inscreveram para participar do programa.

Ciência Aberta é apresentado por Alexandra Ozorio de Almeida, diretora de redação da revista Pesquisa Fapesp.  
 
Os programas anteriores podem ser vistos em www.fapesp.br/ciencia-aberta, pela página da Agência Fapesp no Facebook e no YouTube e pelo site da TV Folha.

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