Descrição de chapéu Homem na Lua, 50

Depoimento: 50 anos do homem na Lua e a importância daquele fato

Eu pensei que também poderia ser um astronauta; era o despertar de um sonho

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Marcos Pontes
Cabo Canaveral (EUA)

Há muito o que se comemorar neste aniversário de 50 anos da chegada do homem à Lua. Quando me perguntam sobre a importância desse fato, muitas coisas me vêm à cabeça, mas o mais relevante dessa conquista é o despertar do sonho e o papel que tem a atitude para atingir objetivos. No meu caso, aquela conquista da humanidade despertou meu sonho de ser astronauta.

Eu era um menino de seis anos naquele 20 de julho de 1969 e acompanhava pela televisão o módulo lunar Eagle pousar na Lua durante a Missão Apollo 11. Neil Armstrong tornava-se o primeiro ser humano a pisar na superfície lunar seguido de seu companheiro de missão, Buzz Aldrin.

Claro que, na época, eu não entendia muito o que estava acontecendo. Porém, meu irmão Luiz Carlos, 11 anos mais velho que eu, explicou que naquele momento o homem tinha saído do nosso planeta Terra num foguete, viajado para o espaço e pousado na Lua pela primeira vez na história.

Era um acontecimento grandioso na história mundial. E eu, no alto dos meus seis anos, garoto do interior de São Paulo, disse ao meu irmão com toda a certeza de uma criança: “Se ese astronauta chegou à Lua, eu também posso me tornar um astronauta e chegar lá!”. Era o despertar do meu sonho. 

Naquela época, claro, ninguém sabia, mas aquilo foi o prelúdio do que se realizaria 31 anos depois.

A partir daquele dia, comecei a sonhar com o céu e com a possibilidade de “ter asas”. Após muito estudo, trabalho e esforço, consegui me tornar um piloto da Força Aérea. Voei diversas aeronaves no Brasil e no mundo e já havia conquistado o voo atmosférico, mas ainda faltava conquistar o voo espacial, como aqueles astronautas em julho de 1969.

Ministro Marcos Pontes escreve texto para a Folha
Ministro Marcos Pontes escreve texto para a Folha - Arquivo pessoal

Foi aí que meu irmão, o mesmo que me explicou a conquista da Lua, entra em cena novamente. Em 1998, eu estava cursando o doutorado na Califórnia (EUA) quando recebi um email dele informando que a Agência Espacial Brasileira (AEB) havia aberto um concurso público para seleção do primeiro astronauta profissional brasileiro. O selecionado faria curso na Nasa e realizaria missões espaciais. Aquilo, claro, me remeteu imediatamente à conquista de Neil e Buzz. O sonho do espaço voltou com força total.

Comecei pelos critérios do concurso. Constatei que preenchia todos os requisitos da seleção com sobra. Na verdade, eu já vinha me preparando com base nos currículos dos astronautas americanos caso surgisse uma oportunidade. Preenchi toda a papelada e me inscrevi no concurso. Realizei as etapas de seleção e fui sendo aprovado em cada uma. 

No final, fui selecionado. Como membro da turma 1998 de astronautas da Nasa, vivi dois anos intensos de curso no Johnson Space Center, em Houston, Texas, até receber meu “brevê” de astronauta profissional em dezembro de 2000. A partir daquele momento, foram mais seis anos de trabalho e dúvidas até a decolagem da Missão Centenário, em 29 de março de 2006.

Estava cumprindo a promessa dita ao meu irmão naquele 20 de julho de 1969.

Muito além da minha perspectiva pessoal, a Apollo 11 representou um salto enorme para a ciência e a tecnologia mundial. Sem dúvida, muitos dos produtos e serviços que usamos hoje são derivados de tecnologias espaciais. Contudo, existe um ponto extremamente importante a ressaltar com relação ao programa Apollo que não é geralmente explorado: a importância da determinação e da atitude para a consecução de grandes objetivos.

Lembremos das palavras do presidente Kennedy naquele dia ensolarado no Texas: “Nós escolhemos ir para Lua nesta década não porque é fácil, mas porque é difícil!”

 

Como se não bastasse a declaração da decisão, ele completou com dados técnicos do futuro foguete que seria necessário e ainda incluiu uma meta: até o final da década, os EUA teriam que enviar astronautas para a Lua e trazê-los em segurança.

Não é apenas a tecnologia  o fator necessário para grandes conquistas; é necessária a atitude de vencedor, aquela que nos dá coragem e determinação para vencer todos os desafios, aquela que nos dá persistência para continuar quando todos já desistiram, aquela que nos dá razões para arriscar a vida pela missão quando todos pensam apenas na própria preservação, aquela que nos faz superar diferenças e trabalhar em equipe para o sucesso da missão, aquela que nos faz buscar excelência quando todos estão satisfeitos com a mediocridade.

Isso me lembra também de uma frase que minha mãe, Dona Zuleika, me disse na minha juventude e que permeou minha vida inteira: “Você pode ser o que quiser na vida, desde que você estude, trabalhe, persista e sempre faça mais do que esperam de você”. Foi isso que foi feito na Apollo 11, foi o que eu fiz na minha carreira e é isso que espero que o Brasil faça nos próximos anos.

Que nós, brasileiros, tenhamos atitude de vencedores para usar conhecimento, ciência e tecnologia como ferramentas para juntos construirmos um Brasil melhor para as futuras gerações.

Parabéns pelos 50 anos da conquista da Lua! Seguimos sempre na missão! 

Marcos Pontes é Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. É astronauta e tornou-se o primeiro brasileiro a ir ao espaço, em 2006

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